Tivemos um ano que com certeza ficará marcado. Não só na história de nosso país, como ficará cravado na vida de qualquer brasileiro que o viveu. Isso porque mesmo que você não tenha participado das manifestações que começaram em maio desse ano e atingiram seu auge em junho e julho, as discussões que essas nos trazem fazem até o mais passivo cidadão se posicionar.

As manifestações desse ano marcaram no Brasil uma das grandes características da cidadania, a luta por uma vida em comunidade mais digna. Por mais que se discorde das pautas levantadas nos inúmeros movimentos de rua que aconteceram, exigir o que se acredita como justo faz parte de um caminho democrático. Podemos tomar que o Brasil acordou sim, mas ainda há que se esclarecer acordou de que, e principalmente acordou para que.

Terminamos o ano com inúmeras duvidas e poucas respostas. A educação nesse cenário de efervescia social se faz presente no discurso e ausente nas práticas. Muitos dos pedidos das manifestações se referiam a educação e até mesmo a greve dos professores entraram no meio das manifestações como mais um sintoma dessa efervescia que se fez sentir esse ano.

O saldo desse ano pende a ser positivo, pois acredito que mesmo quem não concordou com as reivindicações que estiveram em voga nas ruas, há de se concordar que é preciso ouvir as ruas e deixa-las falar para que nosso país chegue a ser uma democracia. Isso porque do lado negativo dessas jornadas de lutas que se empreenderam, pudemos ter a clara noção de que apesar de mais de 20 anos de uma constituição cidadão ainda não vivemos em uma democracia plena. As prisões arbitrárias e fora da lei, truculência policial, gastos exagerados e não transparentes com o aparelho de repressão estatal, vigilância de cidadãos fora do escopo jurídico adequado, e etc e etc. As denuncias e as provas são infindáveis. Podemos falar que vivemos em um país que caminha para a democracia, mas infelizmente ainda não é democrático.

O balanço de final que esta época do ano sempre nos remete a fazer é de que precisamos caminhar para um país democrático. E as lutas desse ano mostram o quão difícil é esse caminhar e principalmente que esse se faz fora do conforto de nossas casas. E aqui vejo que o cenário da educação pode ser a ponta de lança para que essa caminhada não seja tão tortuosa, pois é através de uma educação participativa que prime por um ensino democrático que formaremos gerações que não mais se calarão, ou viverão iludidos que há efetiva democracia no país em que estão. É através de uma formação cidadã que os brasileiros poderão não só perceber que “alguma coisa está fora da ordem”, mas exigir e trabalhar para as mudanças necessárias aconteçam.

Que esse ano em que muitos foram “acordados” sirva-nos de grande inspiração e marco para que façamos de tudo para continuar a educar democraticamente de forma que não voltemos a dormir, pois o sonho se só realiza acordado e com muita luta e trabalho.

Ponto de vista de Gesley Fernandes é graduado em Administração Pública na Fundação Getúlio Vargas – São Paulo. É pesquisador e trabalha no setor da Educação.

SECOM/CPP