Leandro Silva

Um seminário promovido pelo Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE) nesta quinta-feira, 23, discutiu o futuro da educação no Brasil. Os especialistas presentes falaram de problemas já conhecidos que impedem avanços na área educacional, como carência de investimentos, desvio de recursos públicos, condições precárias de escolas municipais e estaduais, além do baixo estímulo à carreira dos profissionais da educação. Um ponto novo de reflexão, entretanto, foi a valorização do ensino médio.

 

De acordo com o ex-reitor da Universidade de São Paulo (USP), professor Roberto Leal Lobo, o período escolar denominado ensino médio merece atenção especial, uma vez que o intervalo é responsável por estruturar a formação cidadã. Segundo ele, a sociedade brasileira tende a valorizar o ensino superior, o que não representa o ideal. “A universidade responde por especialização profissional. Logo, a formação cultural da pessoa, que corresponde ao conceito de sociedade e cidadania, está ligada ao ensino médio, ou seja, ele deve ser continuamente valorizado por isso”, pontua. 

 

Embora ressalte necessidade de cuidados em todos os períodos da trajetória escolar, o professor chamou atenção para a realidade da Coreia do Sul. “Hoje, eles investem muito na educação básica, muito mais no ensino médio e depois reduzem os investimentos em nível superior”, comenta, relacionando o formato com os índices positivos do país no Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), elaborado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

 

Lobo lembrou que os investimentos em educação no Brasil aumentaram de 3,7%, em 2001, para 5,9%, em 2011, segundo dados da OCDE. Contudo, destacou que os resultados em avaliações das quais o País participa ainda se mantêm aquém do esperado, sob posição de 57º no último ranking do Pisa entre os 65 avaliados. “Podemos nos orgulhar estando abaixo do Chile, até do Vietnã?”, questiona, voltando a mencionar a estruturação principal no ensino médio.

 

Na visão do presidente do Conselho Administrativo do CIEE-Rio e membro da Academia Brasileira de Letras (ABL) Arnaldo Niskier, o Brasil enfrenta obstáculos porque a educação nunca foi efetivamente levada a sério, e que as dificuldades não cessarão em um ano de cortes acentuados na educação. “O novo ministro foi bem recebido por praticamente todos os entusiastas da área. De todo modo, como esperar grandes avanços depois do anúncio de corte de bilhões na educação? Já se vê limitações, evidentemente”.

 

Ainda sobre recursos, Niskier ponderou acerca da política salarial dos professores, mencionando uma análise realizada por ele entre a média salarial do Brasil e do Japão. “Aqui, se convertermos, pagamos em média US$ 530 para os professores; lá, paga-se US$ 2 mil”, compara, destacando que assim é difícil sustentar de forma concreta os três pilares que considera base da educação: desenvolvimento econômico e social, democracia plena sob formação cidadã e diminuição das desigualdades.

 

Apesar da retração nos recursos, os especialistas concordaram que não são só gastos que determinam sucesso. Eficiência na execução de políticas públicas é a essência.