A discussão do novo currículo para o Ensino Médio homologado pela Deliberação CEE 186/2020, no contexto do isolamento sanitário, tomou novas proporções. Será possível conciliar o novo currículo, os itinerários formativos e o continuum curricular?

Para fazermos uma reflexão sobre o assunto é preciso ter claro que o novo currículo está estruturado em duas vertentes: a formação básica de todas as áreas do conhecimento e os itinerários formativos. Um apoia o outro, portanto, o currículo do ensino médio é composto pela Base Nacional Comum Curricular e pelos itinerários formativos. Qual o objetivo dessa estruturação?

Segundo o governo, os itinerários formativos permitem diferentes arranjos curriculares, possibilitando ao estudante aprofundar e ampliar o que aprendeu na formação geral básica. Esses arranjos curriculares por sua vez devem considerar o contexto local e as possibilidades dos sistemas de ensino. Os estudantes poderão, de fato, escolher os itinerários?

A premissa, possibilidades dos sistemas, coloca em dúvida se a escolha do itinerário será pautada pela ideia de aprofundamento dos conteúdos e competências ou pela necessidade de adequação ao possível. A ideia da escolha de acordo com os interesses do estudante e a relevância para o contexto local, estará, portanto, comprometida.

A análise realista das condições objetivas da maioria das escolas, tanto a estrutura física, como os recursos materiais e humanos e as condições de trabalho dos profissionais da educação também coloca em dúvida a possibilidade do estudante escolher a partir do seu projeto de vida. A menos que haja um grande investimento nas escolas, como por exemplo: laboratório, biblioteca, ferramentas digitais, formação dos professores e professoras, a implantação dos itinerários será precária. Como isso poderá influenciar a vida dos estudantes?

As boas escolas particulares continuarão a valorizar o currículo centrado no conhecimento sistematizado da humanidade para atender a demanda do vestibular, o acesso aos bons postos de trabalho etc. As escolas públicas, por sua vez, terão que equilibrar a valorização da experiência (itinerários formativos) e o conhecimento sistematizado, sem dúvida, irá crescer a desigualdade entre os estudantes da rede pública e os da particular. O currículo continuum afetará a estruturação curricular?

O novo currículo pressupõe a (re)elaboração da Proposta Pedagógica de cada instituição, uma nova organização dos tempos e espaços, a adoção de novas práticas pedagógicas e de gestão, entretanto, todos e todas irão enfrentar uma dura realidade. Os anos letivos de 2020 e 2021 serão considerados como um único ciclo contínuo, compreendido como o conjunto dos oito bimestres letivos. Os estudantes do ensino fundamental e médio deverão ser matriculados no ano ou série subsequente, em regime de progressão continuada; conteúdos, habilidades e competências relativos a dois anos letivos serão trabalhados em um só, sendo que no primeiro ano, ainda haverá a inclusão dos itinerários formativos.

Será possível conciliar o novo currículo, os itinerários formativos e o continuum curricular? 

Maria Claudia de A. V Junqueira
Diretora, Conselheira e Coordenadora do Encontro dos Representantes de Escola