Nem era preciso fazer pesquisa para constatar que a imagem do ensino público em São Paulo é a pior possível. Mesmo sem o embasamento dos números, que reforçam qualquer teoria, há uma generalizada percepção de que o Estado tem pecado na formação educacional. Fato que agora se vê confirmado por uma pesquisa do Instituto DataPopular.

 

A pesquisa coletou em frações iguais a opinião de 2,1 mil pessoas: 700 professores, 700 pais e 700 alunos. A análise dos dados comprova que o conceito do ensino na rede estadual anda em baixa. Sete em cada dez alunos avaliam que a qualidade das escolas é regular, ruim ou péssima. A avaliação negativa é reflexo de um conjunto de deficiências e carências que, historicamente, depõem contra a qualidade da escola pública. Mas o que mais salta aos olhos é o grau de insatisfação em relação ao sistema de aprovação continuada, que segue promovendo uma distorção no papel primordial da escola: transferir conhecimento para os alunos sob o nobre pretexto de universalizar o acesso à educação. É de se lamentar que 46% dos estudantes entrevistados admitam que já passaram de ano sem saber o conteúdo.

 

Num modelo em que as avaliações são frágeis, parece mais do que óbvio que a aprovação compulsória é um equívoco. Pode até ser que já tenha cumprido o papel de universalização pelo qual ela foi gestada, mas o fato é que, quando se fala na lição de casa que a economia brasileira tem de fazer para alçar um voo de qualidade, além de melhoria da infraestrutura, desburocratização e reforma tributária, a qualidade da educação aparece como um desafio urgente.

 

É preciso reconhecer então que a pesquisa mostra que tanto o Estado quanto a Prefeitura demoraram para mudar o programa pedagógico em vigor. Felizmente, na virada deste ano, as duas administrações anunciaram alterações na aplicação da progressão continuada. O sistema que limita o número de vezes que um aluno pode ser reprovado foi criticado por 94% dos pais. A progressão continuada esconde falhas no aprendizado e pune o aluno duas vezes.

 

Além de iludi-lo, castiga-o quando o jovem se lança ao mercado de trabalho e percebe que não está capacitado para disputar vagas de emprego com concorrentes que tiveram melhor formação de base. É nessa hora que bate a certeza que o diploma na parede é apenas um pedaço de papel, sem conteúdo, sem valor, sem utilidade prática.

 

Um país se constrói com homens e livros, preconizou Monteiro Lobato. Estamos numa era em que parece que a máxima precisa ser reeditada: um país se constrói com homens que saibam adquirir conhecimento e cidadania com os livros. Só depois disso, eles estarão prontos para ir à luta.

 

Editorial desta quarta-feira (26/3) – jornal Diário de São Paulo

SECOM/CPP