A escola em tempo integral deveria deixar de ser apenas uma peça de ficção que embala as promessas de nove entre dez candidatos que aparecem na campanha eleitoral para se tornar um compromisso de governo dos futuros eleitos. Dizer que um grande país se forja na educação do seu povo deveria ser um lembrete dispensável a quem pretende assumir um cargo de gestão pública, mas não custa reforçar o alerta. Óbvio está que o país carece de melhorias na saúde, no transporte, na segurança, no controle dos gastos públicos, na vigilância à corrupção, nas obras de infraestrutura, mas nada se compara à necessidade de um programa que priorize investimentos na educação.
O estado de São Paulo é um bom exemplo disso. Mesmo com uma arrecadação fantástica, superior a de muitos países, com uma população superior a 40 milhões de pessoas, ainda está longe de oferecer para todos um ensino de qualidade digno dos melhores padrões internacionais. A escola pública atual está distante do ideal e, pior, longe também da realidade de um passado não muito distante, em que os alunos formados nela não ficavam nada a dever aos egressos da escola particular na luta por vagas em grandes vestibulares ou processos seletivos dos melhores empregos.
Nesse sentido da retomada, a escola em período integral parece ser o melhor caminho para um cenário de transformação positiva. Com a vantagem de já existir a base de um modelo bem sucedido, que só precisa ser ampliado e disseminado como a política pública prioritário no campo da educação. Mais do que dinheiro, é preciso vontade política para acelerar este processo, sobretudo no interior do estado, onde a pulverização das matrículas por vários municípios permite coordenar o processo de forma menos complexa do que na capital e na região metropolitana. Cabe ainda ressaltar que a universalização da escola integral de nada adiantará se a família negligenciar seu papel de dar suporte ao estudo das crianças ao invés de tirá-las da escola.
São Paulo já tem hoje 437 escolas que atendem 111.302 alunos em tempo integral. Não por acaso, elas destoam dos demais colégios públicos nos índices de aprovação. O êxito desse segmento é reflexo de uma escola diferenciada, com salas temáticas, disciplinas eletivas escolhidas livremente pelos alunos, grade horária com mais de 8 horas e gratificação de 75% sobre o salário-base para os profissionais que atuam em regime de dedicação exclusiva. É o padrão das famosas high schools norte-americanos, que formam cidadãos qualificados para a vida e para o mercado de trabalho. O problema é que aqui, fora desse cenário de excelência, ainda trafeguem cerca de 4 milhões de jovens estudantes, espalhados em 5 mil estabelecimentos de ensino do estado. Fácil perceber que a equação é desequilibrada e, como tal, justiça a má impressão de baixa qualidade do ensino do estado.
Editorial do jornal Diário de São Paulo – publicação de 31 de agosto de 2014
Secom/CPP