A primeira vice-presidente do CPP, professora Loretana Paolieri Pancera, com mais de meio século empenhada no dia a dia da educação paulista, não encontra dificuldade em falar da paixão pelo magistério.

“O Dia Internacional da Mulher, 8 de março, me toca diretamente no coração. Minha vida toda foi voltada ao magistério, não só aos pequeninos, mas ao magistério da antiga escola pública, a escola do povo, de uma qualidade excelente. Minha vida toda me dediquei ao magistério na minha sala de aula. Sempre gostei de ficar com os pequeninhos, mas nunca almejei cargo de direção. Hoje em dia encontro jovens já adultos, casados, pais e avós, que foram meus alunos. Moro na zona norte de São Paulo. Trabalhei na escola estadual Buenos Aires, onde fui aluna e me aposentei como professora pela compulsória. Eu vivi o magistério. No meu sangue corre a fibra do magistério.

Agora me dedico ao Centro do Professorado Paulista, entidade voltada às lutas do magistério, às conquistas do magistério, para as decepções do magistério. Mesmo com toda essa meritocracia o magistério não é reconhecido pelo nosso governo; recebe um salário baixo, um salário de fome. O valor do magistério é tão grande que é “impagável”. Não há dinheiro que pague o valor que o professor merece. Mas o professor deve ser pago também com dinheiro para valorizar o seu trabalho e a dedicação em benefício à educação brasileira, paulista, paulistana, enfim, porque é o futuro desta e de qualquer outra nação”, afirma a professora Loretana, primeira vice-presidente do CPP.

Por mérito da tenacidade feminina, a educação brasileira passou pelas mais complexas transformações. A história registra que a primeira reivindicação pela instrução de uma mulher brasileira partiu de um indígena que pediu ao padre Manuel da Nóbrega que ensinasse sua esposa a ler e a escrever. Não foi fácil. Mas só bem à frente, no século XIX, que finalmente foi dado às  mulheres o direito de trabalhar como professoras.

Felizmente, na memória do Brasil sobressaem grandes exemplos de brasileiras qualificadas para o ensino. Registramos, aqui, mulheres inabaláveis que ensinaram como vencer barreiras para transcender a aprendizagem. Em todas, a mesma singularidade: uma paixão irrestrita pela educação.

Anália Emília Franco (1853 – 1919) – A “Grande Dama da Educação Brasileira”

Anália Franco entrou em um Concurso de Câmara aos 16 anos para trabalhar como professora primária. Alugou uma casa velha para servir como escola, pagando de seu próprio bolso um valor correspondente à metade de seu salário. Escreveu livros didáticos e pedagógicos, e ainda montou uma tipografia para imprimi-los. Anália Franco criou 71 escolas, além de albergues e asilos para crianças órfãs, entre outras instituições.

Bertha Maria Júlia Lutz (1894 – 1976)

Bertha Lutz foi determinante para o movimento de igualdade de gênero no país. Quando chegou ao Brasil, em 1919, candidatou-se a um cargo público no Museu Nacional, no Rio de Janeiro, mas teve sua inscrição negada por ser mulher. Fez um apelo à Justiça, com o respaldo de Rui Barbosa, fez o concurso e foi aprovada em primeiro lugar. Trabalhou lá como professora por mais de 40 anos. Seu trabalho na política foi tão importante que a tornou uma das quatro mulheres escolhidas entre 850 pessoas para participar da redação da Carta das Nações Unidas.

Débora Seabra de Moura

Débora Seabra entrou para a história das mulheres na Educação Brasileira por ser a primeira professora com Síndrome de Down no país. Assim que terminou o Ensino Médio, no Rio Grande do Norte, ingressou no curso de Magistério onde chegou a ser agredida e passou por situações constrangedoras a ponto de fazer greve e não entrar na classe para que fosse respeitada. Homenageada na formatura pela luta em prol da inclusão social. Fez estágios e cursos a distância para professores. O projeto “Donas da Rua da História”, da Maurício de Sousa Produções, a transformou em um personagem com os traços da Turma da Mônica.

Dorina de Gouvêa Nowill (1919 – 2010)

Dorina perdeu a visão aos 17 anos. Foi a primeira aluna cega a frequentar um curso regular na Escola Normal Caetano de Campos, além de ter conseguido a integração de uma colega cega nesta escola. Criou, em 1946, a Fundação para o Livro do Cego no Brasil. Não poupou esforços na elaboração da lei de integração escolar, regulamentada em 1956, e dirigiu a Campanha Nacional de Educação de Cegos do MEC de 1961 a 1973 e foi presidente do Conselho Mundial para o Bem-Estar dos Cegos, hoje União Mundial de Cegos.

Foto: Anália Emília Franco