Governo de SP abandonou recuperação de estudantes dada além do período de aulas e reduziu outros dois modelos
 

O governo Geraldo Alckmin (PSDB) abandonou totalmente o reforço dado além do período de aulas a alunos com dificuldades de aprendizado e esvaziou os outros dois modelos de recuperação presencial da rede paulista. As duas modalidades de reforço – de salas menores e com dois professores na aula – sofreram fortes reduções. O número de professores auxiliares, que atuam na chamada recuperação contínua, caiu 88% entre os anos de 2012 e 2015, passando de 40 mil docentes para 4.635.
 

A redução mais drástica foi no ensino médio, etapa com as maiores dificuldades de aprendizagem. Eram 6.620 professores atuando como auxiliares em 2012. No ano passado, havia só 23. No caso do reforço em salas menores, a chamada recuperação intensiva, houve queda de 45% no número de alunos atendidos. Eram 33,5 mil alunos envolvidos em 2012. No ano passado, esse número foi de 18,5 mil.
 

Os dados foram obtidos pelo jornal Folha de São Paulo por meio da Lei de Acesso à Informação. A rede tem 3,8 milhões de alunos. No sistema de avaliação da rede de ensino, o Saresp, 94,1% dos alunos do ensino médio ficaram no ano passado com desempenho “básico” ou “abaixo do básico” em matemática. No 9º ano, 84,5% estavam nessas condições e no 5º ano, 50,7%. Em 2012, quando a gestão lançou esses dois modelos de recuperação, o governador prometeu que aulas de reforço no contraturno não seriam interrompidas. Não há, entretanto, registro dessas turmas desde aquele ano.

Online

O governo afirma que ampliou a oferta de recuperação de alunos por meio de ferramentas digitais. A rede lançou uma plataforma chamada Aventuras do Currículo+. A Secretaria Estadual de Educação, porém, não informou como está esse atendimento de recuperação em 2016 nem a meta para o ano, tendo em vista o desempenho dos alunos no ano passado.
 

O reforço ocorre na rede desde 1997 (no contraturno, até 2012). Essas atividades são consideradas fundamentais no sistema de ciclos, em que não há reprovação todos os anos. A ideia é que o aluno supere a defasagem de conteúdo sem precisar reprovar. “O papel essencial da recuperação é trabalhar com o aluno em outras condições”, diz o professor Rubens Barbosa de Camargo, na Faculdade de Educação da USP. “A tendência agora é agravar ainda mais as defasagens.”
 

Ciclos

O governo ampliou em 2014 as possibilidades de reprovação. Antes, o aluno só repetia no 5º e no 9º anos do fundamental. Com a mudança, isso passou a ser possível no 3º, 6º e 9º anos. “A nova estrutura permitirá o acompanhamento permanente do aluno, também,  por meio das novas ferramentas de reforço, como a recuperação contínua, na qual as classes contam com um professor auxiliar”, ressalva texto da própria secretaria de Educação, ainda no site da pasta. Quando a recuperação intensiva foi lançada, em 2012, ela era prevista em quatro etapas: no 4º, 5º, 7º e 9º anos. Em 2015, só alunos do 3º, 6º e 9º participaram.
 

Governador diz ter nova estratégia de reforço escolar

A Secretaria de Educação afirma que, desde 2015, os processos de recuperação escolar passaram a ter foco em atividades online. Não houve, segundo a pasta, “descontinuidade” nas atividades. O governo diz que um site de recuperação, chamado Aventuras do Currículo+, recebeu acesso de 104 mil alunos da rede no ano passado.
 

“Não há descontinuidade no sistema de recuperação das escolas estaduais. Ao contrário, a secretaria criou novas modalidades de reforço e também implementou ferramentas estratégicas de gestão pedagógica”, afirma. Com a plataforma, as atividades de reforço de português e matemática são feitas no computador, na escola ou em casa. Ela funciona como um jogo virtual, onde os exercícios são como missões.
 

A pasta ainda argumenta que a melhora nos resultados do Idesp, o indicador de qualidade da rede paulista, é resultado dessa política. O Idesp apresentou alta em 2015 nas três etapas (anos iniciais e finais do ensino fundamental e no médio). Entretanto, mesmo com o crescimento no Idesp, esses indicadores ainda estão em níveis distantes do ideal. O percentual de alunos com desempenho “baixo” e “abaixo do básico” em português e em matemática na avaliação, da rede, o Saresp, é também elevado.
 

 

Fonte: Folha de São Paulo