Não era sem tempo. Somando-se à posse do novo secretário da Educação os três meses de transição de governo, já faz um ano que fizemos, juntos, uma radiografia de todos os números, obras, serviços em andamento e do que se previa em projetos e ações.
Assim que assumiu a Educação, porém, Cesar Callegari passou a fazer denúncias e reparos à antiga gestão. Somos, portanto, obrigados a voltar a repor verdades.
Cesar Callegari afirma hoje que “no quinto ano do ensino fundamental de nossas escolas, há 38% de alunos não alfabetizados”. Na época da transição, disse ao UOL, sem citar a fonte, que esse número era de 27% e “era preciso agir já, imediatamente”.
Teria se descuidado tanto e o número de não alfabetizados em sua gestão crescido assustadores 11%? Ou, então, se esqueceu da declaração que deu ao portal em 26 de dezembro e, com divulgação da taxa maior, estaria se preparando para anunciar agora a mágica redução um ano depois…
O mais interessante, porém, é que sua gestão não fez nenhuma avaliação dos alunos para medir esse índice. O Ministério da Educação (MEC) também não mede esse dado. De concreto, sabe-se que o MEC vai passar a medir nacionalmente o índice de alfabetização no terceiro ano do ensino fundamental.
Índices à parte, Callegari anuncia várias novidades para fazer a “revolução” prometida. Destacamos quatro delas.
1. Realização de provas bimestrais. Como? As escolas da rede municipal já fazem avaliações periódicas. Além das elaboradas pelas escolas, a Secretaria de Educação aplicava provas externas. Não há nada de novo, a menos que a secretaria padronize todo o processo de avaliação, eliminando compulsoriamente o que é feito pelas escolas.
2. Lição de casa para os alunos. Estranho, pois dados oficiais da própria secretaria indicam que, segundo os pais, apenas 4% dos alunos da rede não levavam lição para casa (Pesquisa de Hábitos de Estudo 2010 – Prova São Paulo). Então, o que propõe a secretaria? Criar uma lição de casa padrão para todas as escolas? Será feito um controle centralizado? Todos os professores deverão, por exemplo, passar os mesmos problemas de matemática aos alunos de um determinado ano? E informar a secretaria se os alunos fizeram a lição?
3. Recuperação paralela para os alunos. Todas as escolas já têm isso. Com material específico para uso em sala de recuperação.
4. Promessa de escola em tempo integral. Vale esclarecer que, na gestão Kassab, saímos de quatro para seis horas de aula na pré-escola e de quatro para cinco horas de aula no fundamental. Em setembro de 2012, já havia mais de 260 mil matrículas em atividades no contraturno escolar, com alunos do ensino fundamental frequentando a escola por sete horas, com aulas de recuperação, música, xadrez (um dos maiores programas de xadrez educativo do mundo) e outras.
Por fim: a prefeitura deixou de divulgar mensalmente no seu site o número de matrículas em creche. Em troca, coloca a soma do número de alunos em creche e em pré-escola, o que reduz a transparência e a possibilidade de controle. Não há mais como saber o número de alunos por sala, como antes. Nem sobre a formação de professores e sua distribuição. Um caso inusitado de redução de transparência.
Vale todo esforço para inovar e melhorar o ensino municipal. E se for preciso renomear, desativar projetos, interromper e eliminar soluções já implantadas, que seja com critério, seriedade e transparência. São Paulo, os profissionais da educação, alunos e pais de alunos merecem isso.
Ponto de Vista de ALEXANDRE SCHNEIDER, 43, é mestre em administração pública e governo pela Fundação Getulio Vargas. Foi secretário municipal de Educação de São Paulo (2006-2012)
SECOM/CPP