Foto: Marcio Oshiro

Inspirada no movimento “Outubro Rosa”, ação promove conscientização acerca do bem-estar emocional da população

Janeiro foi escolhido por profissionais da psicologia para alertar a população acerca da importância da saúde mental. Batizada de “Janeiro Branco”, a campanha, lançada em 2014, pretende fazer do primeiro mês do ano um marco atemporal e estratégico para que pessoas debatam, reflitam e planejem ações em favor do bem-estar emocional. O trabalho foi inspirado no movimento “Outubro Rosa”, voltado à prevenção do câncer de mama e precursor dos meses coloridos por campanhas de saúde.

 

A ideia nasceu em Minas Gerais, projetada em 2013 pelo psicólogo Leonardo Abrahão. Janeiro foi escolhido por ser o mês em que, geralmente, pessoas falam de renovação de sonhos e planos para o ano novo; a cor branca, por ser a junção de todas as cores, o que sugere que o indivíduo deve estar em harmonia em todas as áreas da vida para ter saúde mental, além de o fato de ser passível de coloração múltipla. “O branco permite pintar a vida de forma diferente”, garante a campanha.

 

De acordo com o idealizador, discutir saúde mental é premente. “O desprezo pela questão acarreta problemas à humanidade, como violência urbana, depressão e ansiedade, aumento nas taxas de suicídio, entre outros”, pontua Abrahão. Ele ressalta, inclusive, que a Organização Mundial da Saúde (OMS) tem abordado o assunto em diversos trabalhos, chamando atenção para o conceito de saúde, que, segundo a agência, é o completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença.

 

Um estudo da OMS de 2014 mostrou que 10% da população mundial (700 milhões de pessoas na época) apresentavam algum distúrbio de saúde mental. A força de trabalho global de saúde atuante na área, entretanto, correspondia a apenas 1%, média inferior a um profissional de saúde mental para cada dez mil pessoas. Os dados são do Atlas de Saúde Mental 2014.
Em 2013, a agência lançou o Plano de Ação sobre Saúde Mental, cujo período de abrangência vai até 2020, reforçando a necessidade de governança efetiva para a área, com estratégias e fortalecimento de sistemas de informação e pesquisa.

 

Baseada no cenário, a campanha “Janeiro Branco” tem buscado apoio da sociedade. No Brasil, a cidade de Campinas (SP) aprovou a Lei nº 15.303/16, que institui o mês Janeiro Branco, dedicado a realizações de ações educativas para a difusão da saúde mental. Em Uberlândia (MG), cidade natal da campanha, também foi aprovada a Lei nº 12.602/16, de igual teor. Em São Paulo, um grupo de trabalho lançou a campanha no último sábado (7) na Assembleia Legislativa do Estado (Alesp).
Outros países também já demonstraram interesse no movimento, como Portugal e Japão.

 

Educação

Uma reportagem do jornal o Estado de S. Paulo, publicada no ano passado, mostrou que a rede estadual de ensino paulista concede 372 licenças médicas a professores por dia, sendo transtorno mental a principal causa de afastamento (27,8% dos casos).

 

Para especialistas, a carreira docente é considerada estressante por diversos fatores, como carga horária excessiva, conflitos com alunos e más condições de trabalho. Os professores da rede estadual de São Paulo estão sem reajuste salarial há dois anos, por exemplo, e são comuns casos de violência dentro de escolas. 

O movimento “Janeiro Branco” considera necessários trabalhos em favor da saúde mental em escolas, que possam resultar na promoção de bem-estar emocional tanto de profissionais da educação quanto de alunos. “É um ambiente de diversidade religiosa, sexual e cultural que requer atenção psicológica. Conflitos podem ser evitados a partir de trabalhos neste sentido, que habilitem professores e jovens para lidar com variadas formas de sentimentos e emoções”, sinaliza Abrahão.

Outro fator que envolve escolas é a chamada medicalização, que consiste na transformação de questões coletivas e sociais em questões individuais e biológicas, mais precisamente médicas, especialmente com uso de medicamentos. No município de São Paulo, por exemplo, houve manifesto contrário de entidades a um texto substitutivo do PL nº 86/2006, que dispõe sobre programa de apoio ao aluno portador de distúrbios específicos de aprendizagem diagnosticado como dislexia, por preocupação com a medicalização de estudantes como solução para obstáculos de aprendizagem.
 

Na opinião do psicólogo Wemerson Peixoto, de São Paulo, medicalização é um caso de saúde pública iniciado nos Estados Unidos na década de 80. “Crianças de 3 e 4 anos eram medicadas corriqueiramente. Se a criança estava quieta, medicamentos tratavam de estimulá-la; se agitada, de acalmá-la. Isso levou a uma sociedade hipocondríaca.” Ele chama atenção ainda para o financiamento de indústrias farmacêuticas, que estimula indiretamente prescrições médicas. “Como explicar a disponibilidade de amostras grátis em consultórios, por exemplo. Como nasce tal relação?”, indaga.
O psicólogo reforça que a campanha não é contra medicamentos, mas sim contra medicalização da vida e da sociedade.

 

Agenda

A campanha “Janeiro Branco” promoverá diversas ações em São Paulo, como palestras em escolas, hospitais, espaços públicos etc. durante todo o mês.

O calendário completo pode ser conferido no site e na página oficial do Facebook.