Depois que o IBGE afirmou que mais da metade dos adultos brasileiros com 25 anos não completaram o ensino médio, o MEC resolveu sanar o problema com a implantação de um Novo Ensino Médio. A proposta teve origem como tantas outras, por meio de uma Medida Provisória nº 748/2016, sem a menor participação da sociedade civil, tampouco dos profissionais da educação.
Se avaliarmos os aspectos que envolvem a implementação da reforma, não é difícil reconhecer que a mudança do currículo no Novo Ensino Médio incidirá sobre a vida profissional do professor. Como o trabalho desses profissionais será afetado? Qual o suporte oferecido aos profissionais que atuam na escola?
A professora Maria Claudia de A. Viana Junqueira, diretora do Instituto de Estudos Educacionais “Sud Mennucci”, do CPP, tem pesquisado com profundidade o chamado “Novo Ensino Médio”, desde quando a proposta surgiu no Ministério da Educação.
Acompanhe os pontos mais relevantes que alterarão as atividades dos professores com a implantação da reforma, segundo a análise da professora Maria Cláudia.
* No Estado de São Paulo, podemos considerar o Novo Ensino Médio a mais extensa reorganização escolar implantada na rede paulista desde 2015, em razão dos itinerários formativos. Eles são parte indissociável da Formação Geral Básica e podem ser organizados por meio da oferta de diferentes arranjos curriculares.
* A primeira vista parece uma solução que conseguirá dinamizar o currículo e até a organização do espaço nas escolas do Ensino Médio. Entretanto, a ideia não foi acompanhada por uma radical transformação do espaço escolar, como a criação de bibliotecas, de laboratórios e mesmo de espaços culturais para garantir o pleno desenvolvimento do currículo e do Itinerário Formativo.
* Já vivemos reformas que mal saíram do papel porque não foram acompanhadas da transformação dos tempos e espaço da escola. Se os itinerários formativos são flexíveis, inclusive para atender as demandas dos estudantes, eles precisam ser escutados e os profissionais da escola precisam pensar a sua implantação a partir de uma sólida formação em serviço. No entanto, não foi garantida aos profissionais da educação uma formação diferenciada, profunda, alicerçada nas demandas da comunidade escolar.
* Como o conteúdo dos itinerários formativos foram delineados de cima para baixo, de forma massificada, em determinadas instituições pode não ter profissionais capacitados para ministrá-los. Estará se abrindo uma porta para a compra de cursos pelo governo? Para a contratação dos chamados profissionais de “notório saber”? Se isso acontecer o professor será submetido a pesadas rotinas de trabalho, correndo de uma escola para outra a fim de completar a jornada e o salário.
* A padronização e esvaziamento do currículo podem acirrar a alienação do fazer docente, descaracterizar sua formação inicial e continuada, aprofundar a perda de autonomia e criatividade.Nesse cenário, a luta de todos os profissionais da educação e da associação que o representa deve ser a da reconstrução de canais de diálogo com a sociedade, com os conselhos e fóruns de educação, com os grêmios e diretórios estudantis, dentre outros, para pressionar o governo a estabelecer o diálogo. Escutar a categoria, a comunidade escolar.