A fragilidade do sistema educacional público não é desconhecida por ninguém, mas, ao apresentar os resultados do Ideb, os “analistas” não mencionam que nós, educadores, apontamos o problema há muito tempo, sugerimos mudanças, mostramos a necessidade do investimento na infraestrutura das escolas, nas políticas de valorização e formação do profissional da educação. 

Ao abordar os resultados do Ideb, os representantes do governo não mencionaram a necessidade de nos escutar. Não foi mencionado o trabalho daquele que é um dos sujeitos do processo de ensino e de aprendizagem, o professor e a professora. Não foi feito nenhum apelo, nenhum estímulo, nenhum gesto no sentido de escutar-nos.

O resultado não foi o esperado? Não. Mas não podemos esquecer que a educação no Brasil, principalmente nas séries iniciais do ensino fundamental, vem melhorando desde 2003. Não podemos deixar de lado nas análises que mais ou menos 70% das escolas do ensino fundamental melhoraram seu desempenho se comparamos os resultados de 2013. Não podemos esquecer que somos o país que mais cresceu nos últimos anos no ensino de matemática, segundo a OCDE. Não podemos deixar de lado o esforço dos profissionais da educação para garantir uma educação de boa qualidade, mesmo inseridos em um cenário que lhes é desfavorável.

Mais uma vez não fomos ouvidos e a solução para o problema dos índices do Ideb foi simplificada: uma reforma no ensino médio, por ser mais fácil, em razão do número de escolas. Uma reforma, segundo o governo, que pretende enxugar os conteúdos e apostar no futuro profissional do estudante. Já vivemos na escola esse tipo de reforma e sabemos que elas não põem o dedo na ferida.

Maria Claudia de A. Viana Junqueira. Diretora executiva do Centro do Professorado Paulista; responsável pelo programa Papo de Professor, da TV CPP.