Bernardo Guimarães

É inevitável. Qualquer discussão sobre geopolítica, fatos históricos e temas atuais passa pela economia. Assim, aulas de história e geografia nas escolas são recheadas de conteúdo relacionado à economia. Em países como Reino Unido e Estados Unidos, a economia é uma matéria oferecida no colégio. O estudante aprende os princípios básicos da ciência econômica. O curso de economia na universidade é uma continuação desse conteúdo.

 

Contudo, no Brasil, não há nas escolas uma matéria sobre economia com livros escritos por quem estuda e ensina economia. Um curso sobre a economia apresenta arcabouços para pensar sobre questões econômicas: a partir de hipóteses bem definidas, chegamos em resultados – muitas vezes surpreendentes. Aprende-se assim um conjunto de mecanismos que nos ajuda a entender como funciona a economia e a pensar sobre políticas públicas.

 

Entender como hipóteses levam a resultados ajuda o aluno a pensar criticamente. Só assim o aluno consegue entender um ponto de vista, pensar sobre a adequação das hipóteses utilizadas e considerar alternativas. Além disso, um curso de economia deve ser acompanhado de dados ou fatos representativos que ilustram os mecanismos e mostram ao aluno a importância de se olhar para os dados.

 

Em geral, as aulas de história e geografia não tem nada disso. Enquanto os cursos de física, matemática a biologia fornecem as bases para o estudo de disciplinas mais avançadas na faculdade, o conhecimento acerca da economia aprendido nas escolas é, em geral, destruído em poucas semanas no meu curso de introdução à economia, na FGV. Diz-se por aí que, nos cursos de história e geografia, o aluno aprende a questionar, a pensar criticamente. Não aprende.

 

Os alunos, com frequência, aprendem um conjunto de ladainhas. Algumas dessas ladainhas são repetidas no início do curso de economia. Elas morrem rapidamente quando eu pergunto “em que dado eu veria isso” (ou antes, quando eu mostro dados), ou quando tentamos entender as hipóteses que geram uma conclusão e descobrimos um erro lógico no raciocínio ou implicações que não fazem sentido.

 

Foi essa frustração com o que se aprende sobre economia nas escolas que levou os alunos da escola de economia da FGV a oferecerem, neste ano, um minicurso de economia a alunos do ensino médio. É essa mesma frustração que me leva, com frequência, a oferecer cursos de economia para os alunos de colégio – o deste ano acaba hoje.

 

Isso poderia ser ensinado nas escolas. Eu sei, muitos cursos de economia são muito ruins (o que eu fiz na Escola Politécnica há 25 anos é um exemplo), mas o material de um livro introdutório de economia tem bastante a ensinar. Os jovens de hoje têm mais acesso à informação do que eu tinha – e entendem bem melhor as questões econômicas do que a minha geração entendia.

 

Só que a escola não ajuda. Ensinar a pensar criticamente requer ensinar a pensar sobre as hipóteses que levam a uma conclusão, entender os mecanismos e checar as conclusões com os dados. Com frequência, o que se ensina é um discurso de protesto para desafinar o coro dos contentes. Formamos, então, uma multidão de desafinados.

Bernardo é doutor em economia pela Universidade Yale e professor de economia da EESP-FGV. É autor do blog “A Economia no Século 21”.