Eduardo Massad em live da Fapesp/Reprodução

Infectados podem chegar a 1,7 mil no primeiro dia de aula e quadruplicar em 15 dias

O planejamento do Governo de São Paulo para abertura de escolas em 8 de setembro é considerado prematuro, e portanto inconsequente, por especialistas. Pesquisadores preveem escalada de casos de Covid-19 e mais mortes em território paulista.

A gestão tucana, representada pelo governador João Doria (PSDB) e pelo secretário estadual de Educação, Rossieli Soares, anunciou no mês passado que as aulas presenciais no estado devem voltar em dois meses, abrangendo instituições públicas e privadas, que terão de seguir diversos protocolos de segurança sanitária, em caso de abertura, de acordo com o “Plano de Retomada Consciente”

Para Eduardo Massad, professor titular da Escola de Matemática Aplicada da Fundação Getulio Vargas (FGV), voltar às aulas em breve significa grave risco à saúde pública, colocando professores, estudantes e toda a comunidade em perigo. “Abrir as escolas agora é genocídio”, afirma o médico e doutor em patologia experimental. 

O especialista argumenta, a partir de cálculos feitos por ele, que o cenário de abertura de escolas atualmente é extremamente preocupante. “Temos no Brasil 500 mil crianças portadoras do vírus zanzando por aí. Se abrir, agora em 1º de agosto, mesmo usando máscara, mesmo com dois metros de distância, teremos, no primeiro dia de aula, 1,7 mil novas infecções, com 38 óbitos. Isso vai dobrar depois de dez dias e quadruplicar depois de 15 dias.”

A projeção foi discutida nesta terça-feira (14) em conferência virtual da Agência Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e do Canal Butantan, nomeada “Quatro meses de pandemia da COVID-19 no Brasil: balanço e perspectivas para o futuro”. 

Outro especialista, Otavio Ranzani, pesquisador da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo) e do Instituto de Saúde Global de Barcelona, compartilha do mesmo receio com abertura de escolas. Ele alerta que na Europa as aulas presenciais foram retomadas somente quando a taxa de contágio havia caído para valores inferiores a 1, ou seja, quando cada infectado europeu passou a transmitir o vírus para menos de uma pessoa, em média.

Em São Paulo, estima-se que a taxa esteja próxima de 1 e, caso a tendência atual se mantenha, só deve cair para um patamar seguro depois de novembro. “Concordo que, neste momento, as escolas podem ser uma grande fonte de transmissão”, completa Ranzani.

CENÁRIO PAULISTA

Atualmente, o estado de São Paulo registra 393.176 infectados pelo coronavírus e 18.640 óbitos (dados de 15/7, às 15h50). Massad reforça que há 50% de pessoas protegidas em casa e 50% fora de casa. “Quando se relaxam as medidas de isolamento e mais pessoas passam a circular, o limiar mínimo sobe rapidamente. É um paradoxo de Zenão, ou seja, algo que se corre atrás, mas nunca se alcança.”

A live também contou com participação de Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan. Segundo ele, há falsa sensação de momento de inflexão da curva epidêmica no estado. “A realidade é que o número de novos casos ainda deve continuar aumentando pelo menos até outubro, considerando o nível de isolamento atual, entre 45% e 50%. A queda só deve ocorrer de fato a partir de novembro e isso se não houver alguma mudança na tendência.”

Na avaliação de Covas, a curva de óbitos parece ter se estabilizado, mas em um patamar elevado, em torno de 300 por dia – situação que deve se prolongar até o início de 2021.

Fonte: Agência Fapesp/Karina Toledo