Foto: Leandro Silva

Segundo o filósofo e doutor em educação, projeto pedagógico eficiente aproxima comunidade e escola

 

Educação, de acordo com o dicionário Aurélio, é o conjunto de normas pedagógicas tendentes ao desenvolvimento geral do corpo e do espírito. A etimologia da palavra, incluída no dicionário em português no século 17, é latina, oriunda dos verbos educere (conduzir para fora) e educare (amamentar, criar, alimentar).

A definição no dicionário brasileiro sugere técnica, rigor pedagógico, o que aponta para o campo profissional dos educadores; a origem da palavra, sentido fraterno, assemelhando-se mais ao seio familiar. A quem compete, portanto, a tarefa de educar?

Na avaliação de Mario Sergio Cortella, um dos principais nomes da área educacional no Brasil, educação é responsabilidade da família, cabendo aos professores exclusivamente o processo de instrução escolar. O filósofo afirma, entretanto, que o conceito de educação tem sido confundido na atualidade, exigindo dos professores a formação também de pais e responsáveis. “Explicar as responsabilidades de cada um é papel do professor.”

Filósofo e escritor, com mestrado e doutorado em educação, Cortella é professor titular da PUC-SP e comentarista em rádio e TV. Foi secretário municipal de Educação de São Paulo (1991-1992). 

No escritório da MS Cortella Consultoria, em Higienópolis, bairro da capital paulista, o professor falou ainda da carreira do magistério, desigualdade de gênero, reorganização escolar, entre outros temas. Confira os principais trechos.

 

Portal CPP: O Senhor é um crítico de pais que transferem a tarefa de educar os filhos para a escola. Qual é a função da escola, sobretudo do professor?

Mario Sergio Cortella: A função da escola é, acima de tudo, a formação de natureza técnico-científica cidadã. É escolarizar, isto é, oferecer ferramentas que a cultura letrada carrega dos vários campos da atividade humana para uma cidadania de convivência.

Não é tarefa das escolas, de maneira nenhuma, assumir o conjunto de educação de jovens e crianças, confundindo escolarização com educação. Educação é a formação integral de uma pessoa, que compete à família; escolarização, um pedaço da educação, este sim pertinente à escola, o qual deve ser partilhado com instituições sociais, poder público, mídia e, claro, com a própria família.

Nós, professores, ajudamos no conjunto de educação, sendo nossa parte escolarizar. Não se trata de reduzir nosso campo de atuação, mas é importante esclarecer para que não obtenhamos frustração. Professor escolariza.
 

De que forma os profissionais da educação podem atuar para que os pais reconheçam a função da escola?

É preciso ir além da formação de estudantes, buscando também a formação das famílias. Seja na área pública, seja na área privada, é primordial que a estrutura escolar abranja pais e responsáveis. Como? Por meio de congressos, debates, eventos na unidade que fomentem a compreensão dessa necessidade de os responsáveis assumirem a tarefa deles.

A escola não pode se omitir. Por ser uma instituição formativa, especialmente na esfera pública, sendo assim uma entidade republicana, ela precisa envolver a comunidade e instruí-la, para que esta não transfira, de modo equivocado, responsabilidades que não competem à escola. Explicar as responsabilidades de cada um é papel do professor.

O caminho, então, é trazer a comunidade também para a escola?

Sim, inclusive porque a comunidade é proprietária daquela estrutura. Portanto, trata-se apenas de fazer com que o proprietário se aproprie do que é seu por direito. Afinal de contas, o público não é aquilo que não tem dono. Essa ideia é estapafúrdia. Público é aquilo de que todos são donos.

A equipe de professores, o grupo pedagógico, deve desenvolver um projeto para a comunidade. Dá trabalho, é complexo, sem dúvida. Mas é inerente à nossa atividade.

No Brasil, os educadores recebem formação adequada para lidar com a responsabilidade de trabalhar com pais e alunos?

Ainda não. Nós não temos formação que siga nesta direção. Na verdade, este é um conteúdo assumido muitas vezes por unidades de organização, entidades sindicais e grupos de formação que não estão ligados diretamente à estrutura oficial de ensino de professores. São essas instituições que abrem caminhos para tal responsabilidade, com seminários e palestras, por exemplo.

Às vezes, encontramos algumas estruturas formativas nas redes municipais e estaduais, mas entramos neste circuito amplo de competências recentemente. Não faz meio século que os professores deparam com tarefas cada vez mais complexas. Porque o fenômeno de crianças que são colocadas sob responsabilidade da escola, com uma restrição de convivência familiar, é novo. É marcado pela urbanização acelerada, pelo adensamento populacional, pela extensão do tempo fora de casa por parte dos adultos em longas jornadas de trabalho.

No campo da educação é algo com o qual não estamos habituados. Por isso a importância de a formação se renovar para que atuemos de maneira mais competente. De maneira socialmente responsável.

Enquanto a formação tradicional não domina esse fenômeno, como o senhor se refere, a alternativa para que um professor se destaque é aderir à formação complementar de instituições coadjuvantes? Essa é a ajuda que o profissional deve buscar? 

Sozinho jamais. A educação, que fique claro, é um ato coletivo. Todas as vezes que um professor procura sozinho por caminhos ele não consegue achar a saída. Ele tem que se aliar a outro para obter êxito. Lembrando Chico Buarque, quando traduziu do italiano “Os Saltimbancos”, “um bicho só, é só um bicho”. Como na música [Todos Juntos – 1977], “todos juntos somos fortes”.

Um professor que tente, sozinho, disciplinar as atividades em sala de aula, exigir o cumprimento do horário e determinar um rigor maior sobre as avaliações, porque ouviu falar do assunto individualmente, será triturado. Logo, as ações têm de ser baseadas em projeto pedagógico, é assim que se ganha força.

Obviamente, o corpo de educadores não vai concordar com tudo num projeto escolar. Mas a educação não é um campo imune às contradições e aos embates. O ideal é buscar consenso que permita a chance de trabalhar em conjunto. E esse consenso surge quando a equipe busca alternativas. Quando experiências são trocadas.

Não é heroico quem tenta fazer sozinho. É tolo.
 

E é possível encontrar equipes inteiramente motivadas, interessadas por formação complementar, sobretudo diante de uma profissão difícil do ponto de vista de carreira? O salário de professor, não raro, costuma ficar abaixo do salário de profissionais com formação equivalente…

Nós não temos, neste momento, solução para o problema de carreira, exceto pelo que seria, de fato, um projeto de nação para a educação, e não de governo. No Brasil, nós sempre tivemos e ainda temos educação pública como projeto de governo, o que não é viável.

O que a nação deseja em relação aos seus educadores escolares? Qual é o modo de remuneração? Seria o salário marcado pela produtividade, como discutem alguns? Ou seria pela atividade desenvolvida, que tenha como alicerce a formação continuada, o provimento de metodologias, com remuneração provedora das condições básica do exercício?
Há um dado importante, quando falamos de remuneração, que é o fato de a educação no Brasil ser feita essencialmente por mulheres. Porque as profissões consideradas femininas têm valorização inferior, haja vista enfermagem, nutrição, fonoaudiologia, psicologia, entre outras. Raramente você conhece uma cirurgiã cardíaca. Ou uma neurocirurgiã. Há profissões entendidas como masculinas, que consequentemente têm elevação salarial.

A docência é historicamente conectada ao mundo feminino, portanto uma postura secundária, em que o salário inferior se estabeleceu na ideia de renda auxiliar, para ajudar na composição da família que tinha o homem como provedor absoluto. É uma questão de gênero com princípios na antiguidade.
 
Hoje, essas questões, tanto de direitos trabalhistas, quanto de desigualdade de gênero, são mais discutidas. Há uma abertura para confrontar modelos preconcebidos, inclusive com políticas públicas já criadas. Como ampliar a discussão para garantir ainda mais direitos?

Evidentemente, o trabalho pedagógico exige políticas públicas para que seja realizado, basta acompanhar os problemas que discutimos até aqui. De todo modo, para que a garantia de direitos avance, como deve avançar, é preciso compromisso das entidades ligadas ao campo profissional e de seus integrantes. Percebo que as pessoas, e aí não falando apenas de professores, têm baixa frequência em suas respectivas entidades de classe. Falta integração para a exigência de direitos.

Volto no que já disse: individualmente, sem união, não funcionará.
 
Este cenário da carreira de professor, especialmente da questão salarial, responde pela falta de interesse de jovens pelo curso de pedagogia?

Não necessariamente. O número de pessoas que ainda se dedica a fazer o que era o curso de magistério continua absolutamente extenso. O curso mais oferecido no Brasil, em número de graduações, que tem o maior número de pessoas, é o curso de pedagogia, embora por razões nem sempre elevadas.

Em muitos locais, em cidades pequenas, pedagogia é o único curso disponível. Às vezes, o ingresso é mais facilitado também. Então, a adesão não ocorre exatamente pelo que desejaríamos, mas há uma parcela de jovens que ainda se dedica a isso.

Nós perdemos docentes em algumas disciplinas específicas, como biologia e física, por exemplo, porque houve redução na oferta de licenciatura nessas áreas. Mas, de maneira geral, não falta professor no Brasil.
 
Algumas universidades da cidade de São Paulo apontam para queda no número de matriculados em cursos de pedagogia. Isso se deve, então, ao fato de se tratar de uma metrópole?

Não. Há o fato de que a pedagogia entrou na modalidade a distância. Por ser um curso que dispensa, no sentido clássico da palavra, a presença, uma vez que não há equipamentos para manipular, como odontologia, por exemplo, as aulas são possíveis em EAD. Isso vale também para filosofia, que é a minha área, ciências sociais, história, geografia e por aí vai.

Hoje, os grandes grupos internacionais que dominam o ensino superior no Brasil trabalham muito com o ensino a distância em áreas possíveis, assim o ensino presencial apresenta queda mesmo.

Outro ponto é a questão regional. Percebemos queda nas universidades da região central da capital paulista. Entretanto, há diversas instituições de ensino superior alocadas na periferia. Lá, certamente, o registro é outro. Até por uma condição financeira. 

 
O secretário estadual de Educação de São Paulo, José Renato Nalini, assumiu a pasta mencionando uma fala do senhor, sobre a estrutura do século 19, docentes do século 20 e alunos do século 21 na conjuntura da educação atual. Como resolver o impasse?

A única possibilidade é que façamos um projeto pedagógico coletivo que atualize nossos processos de avaliação e ensino. Se avaliarmos, os alunos do ensino fundamental de hoje nasceram nos anos 2000, ou seja, eles convivem com uma tecnologia que muitas vezes o docente não acompanha. Neste sentido, não é que a tecnologia modernize uma mente pedagógica, mas uma mente pedagógica moderna não recusa a tecnologia quando ela se faz necessária.

A mais antiga plataforma de ensino a distância se chama livro, sendo ela utilizada de várias maneiras, seja papel, papiro, pergaminho, há pelo menos 2,5 mil anos. Logo, as novas plataformas não substituem as anteriores. Eu posso, por exemplo, ministrar uma aula expositiva, que é uma coisa antiga, porém não é velha, estimulando uma pesquisa que convirja com as novas plataformas, aproximando-me do interesse do aluno porque entrarei no cotidiano dele.

Por que é que eu ia à escola em Londrina, minha cidade, aos seis anos de idade e todo animado para assistir às aulas da dona Mercedes, que foi quem me alfabetizou? Porque ela era a única fonte de conhecimento letrado que eu tinha. Não havia cinema nem internet, não havia televisão naquela época e naquele local. Dona Mercedes mantinha uma sedução no sentido cognitivo em relação ao que ela sabia, coisa que hoje qualquer um de nós sabe apertando o celular.

O que quero dizer é que a escola tem de ter capacidade de atualizar o projeto pedagógico, considerando a realidade dos alunos, a formação docente, e contar com o mundo digital não por submissão, mas por apoio.
 
É viável permitir o uso de celular em sala de aula, por exemplo?

Depende. Existem tecnologias que são distrativas. Eu sou professor de filosofia e nem sempre uso tecnologia para uma exposição. Há conceitos que são assimiláveis por meio da fala e da audição, apenas. Projetar e ler, fazer piscar, soltar bolinhas, por exemplo, é distrativo.

O celular pode ser integrado ao processo de aprendizagem se, naquela hora, ele tiver o sentido de uma plataforma de ensino. A nossa grande questão é que não se introduza a tecnologia como meio de distração, mas como meio de acesso ao conhecimento, que hoje não pode ser descartado.

A questão também repousa no interesse que o professor causa nos alunos. Em uma aula enfadonha até a cortina tende a distrair. Ou não?

Claro. Tal como um caderno em que a última folha serve para rabiscos. Labirintos são tracejados enquanto professores dão aulas absolutamente desinteressantes (risos).

Um jovem de 14 anos é capaz de ficar 15 horas em uma fila, em absoluto desconforto, para assistir a um show que ele queira. E, se chover, o garoto toma chuva durante três horas, fica cheio de lama e sai feliz da vida. Existe ali o óbvio: interesse.

Com um bom sermão na igreja, tanto faz se o banco é de pau. Nem poltrona de veludo nos segura quando o que ouvimos é chato.

Em resumo, se o professor causa interesse, se ele emociona, se ele toca o estudante, nada mais importa. O aluno vai prestar atenção.
 

Falando em interesse de aluno, São Paulo registrou no ano passado grande mobilização de jovens contrários à reorganização escolar da rede estadual de ensino. Como o senhor vê a proposta do governo?

A reorganização tem que ser feita em vários momentos. Ninguém em sã consciência supõe que não se possa, vez ou outra, reordenar as estruturas de atendimento. O problema, no entanto, foi a maneira intempestiva, turbulenta, com a qual o ex-secretário de educação [Herman Voorwald] anunciou a medida. Perturbaram uma rede de ensino que já estava perturbada, seja porque viemos de um ano com greve de professores, seja porque é difícil atuar na rede pública ou porque educadores sofrem de estafa por algumas condições. Então, o que o secretário trouxe? Em vez de debate, perturbação.

Não é descartável, por exemplo, que se julgue melhor separar crianças de jovens ou adultos. É compreensível a divisão de níveis de ensino. Várias instituições da rede privada fazem isso. Entretanto, repito, o anúncio foi atabalhoado.

E é preciso lembrar que a mobilização dos estudantes foi um ato belíssimo. Alguns deslizes acontecem, principalmente quando estamos aprendendo, mas as manifestações foram muito fortes. Nisso o ex-secretário contribuiu sem querer. Tivemos o que não tínhamos há muito tempo, que foi uma mobilização de estudantes fora da época ditatorial. Devemos isso ao Herman.

 
Ele se referiu aos protestos como movimentação política…

Sim, toda movimentação é política. É mais ou menos como dizer que o sol sai todos os dias. É óbvio. A palavra polis, em grego, significa comunidade, um grupo que vive junto. Por isso, toda movimentação mexe com a comunidade.

Disse ele que a mobilização era partidária, aí é outra coisa. Dizer que é político é uma obviedade; partidário, aí tem que mostrar.

O governo, aliás, deslizou, tal como a imprensa. Várias vezes se chamou a ocupação de escolas de invasão. E aí alguns podem dizer “ah, mas, se olhar no dicionário etimológico, é a mesma coisa”, porém não estamos discutindo etimologia. Estamos discutindo política. E na política invasão é diferente de ocupação.

Invasão é quando você toma algo que não te pertence. Na área pública, portanto, o povo chega naquilo que é dele. Chamar de invasão, desculpe, é não entender o que está acontecendo.
 
Que impressões o senhor tem do setor público? 

Ele é o setor brasileiro. A educação pública no Brasil é a educação. A educação privada é um direito constitucional, e ela precisa sê-lo numa democracia, mas é secundária. Não dá para comparar. De cada dez, nove estão na atividade pública. Então, é uma instituição republicana que não foi apropriada ainda pela população.

As pessoas continuam, em grande medida por responsabilidade nossa, que ainda, como educadores, não os formamos nesta direção, achando que público é aquele que não tem dono, como falei.

Na nossa área, por exemplo, vejo colegas que atuam no público e no privado e se comportam de formas diferentes em cada um deles. Tem professor que ameaça o filho com a escola pública. “Você não está estudando? Então, você vai ver. Vou colocar você em uma escola pública…”. Esse tipo de desprezo é nojento.

A pessoa que rejeita a fonte que a remunera tem que ter vergonha na cara e deixar o ofício para quem tenha, de fato, outra percepção. A propósito, podemos comparar. Entre uma pessoa que atuou por 30 anos no setor público e outra que atuou pelo mesmo tempo no privado, terá muito mais vantagem a que sair do público, em termos de remuneração. O ganho é pelo menos 30% maior para quem se aposenta na área pública. Por isso, além de ser uma posição nojenta, é imbecil.
 

A negação ou desprezo em relação ao setor público ocorre por falta de sensibilidade política da sociedade? 

Sem dúvida. Nós temos uma democracia com menos de 30 anos, é bom lembrar. O País tem 516 anos e nem 10% de sua história com democracia.

Os primeiros 300 anos foram de colonização. Os 100 subsequentes de império. A República foi proclamada sem que o público participasse. Na sequência, de 1889 a 1930, um governo excludente, em que o voto era censitário, isto é, sem participação de analfabetos e de quem tinha renda inferior, portanto quase todo mundo.

De 1930 a 1945, uma ditadura. De 1945 a 1954, um interregno, processo democrático tímido, mas ainda com população rural e analfabeta sem direito de participação. De 1964 a 1985, outra ditadura.

De 1988 até agora nós temos alguma democracia, com possibilidade de voto ao analfabeto. É tão impactante que, na primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso, de cada três eleitores, um era analfabeto. Isso significa que bem recentemente, ainda nos anos 90, identificamos traços de um histórico sem democracia.  É a prova de que estamos no meio da caminhada, aprendendo mesmo.
 

A educação brasileira melhorou, embora, de acordo com o senhor, os projetos sejam de governos, e não de nação para a área? 

Muito. Não tem comparação. Quando olhamos para os últimos 30 anos nosso País deu um salto. Desde 1996 temos progressão acelerada. Obviamente que nenhum de nós se acalma com isso. O fato de ter melhorado significa que a condição era tão negativa, mas tão negativa, que a ampliação do atendimento no ensino fundamental, mais pessoas no ensino médio e a presença massiva no ensino superior representam uma melhora de peso. Costumo dizer que saímos da indigência. Ou melhor, saímos da UTI para a enfermaria. E falta muito para a alta.

O problema é que esse movimento positivo foi um pouco travado por circunstâncias econômicas. O pré-sal, por exemplo, não era um grande remédio, mas traria sustento a recursos existentes. Só que a queda no preço do barril de petróleo no campo internacional atinge diretamente o financiamento da educação.

O dinheiro que o País tem hoje é suficiente em grande medida para a manutenção do ensino, isto é, para deixar como está. Agora, para uma elevação, avanços qualitativos e quantitativos, é necessário um aporte maior. Evidentemente que o projeto de 10% do PIB (Produto Interno Bruto) aplicado à área da educação é absolutamente necessário. Contudo, quando há redução do PIB, esses 10% se aproximam dos atuais 5,6% que o Brasil vem investindo…

Tenho uma visão otimista, mas não tranquilizadora. Nós estamos apenas dando um pouco de clareza à vergonha na cara que temos de ter. É inadmissível constar na 59ª posição na área de educação escolar sendo a sétima economia mais poderosa do planeta.
 

O senhor foi doutorando de Paulo Freire. Que lição carrega do maior nome da pedagogia brasileira?

A humildade. Paulo Freire jamais era subserviente, porém era absolutamente humilde. Ele tinha com total clareza que só é um bom ensinante quem for um bom aprendente. Não abria mão dessa perspectiva.

Freire nos inspira, tanto que tem uma atualidade muito forte. Ele nos diria: “fazer como Paulo Freire não é fazer o que Paulo Freire fez, é fazer o que ele faria se estivesse aqui agora”. Inspirar-se nele não é tentar fazer o que ele fez há algum tempo, mas sim trabalhar o que, com total humildade, Freire tentaria fazer. A alegria que ele carregava no trabalho pedagógico é sempre inspiradora.