A dura realidade do mercado de trabalho impôs à muita gente acima dos 40 anos voltar à sala de aula e a tentar uma vaga de estagiário
Depois de 22 anos longe da sala de aula, Márcia voltou do mesmo jeito que tinha saído. Como aluna. Aos 40 anos, com dois filhos criados, ela começou o curso de pedagogia e há dois meses faz estágio em uma escola infantil na zona sul de São Paulo. Márcia resolveu encarar esse desafio do estágio já no segundo semestre da faculdade. Ela se candidatou e ficou com uma das 10 vagas oferecidas pela escola. O detalhe é que eram 60 inscritas no processo de seleção.
“Fiquei feliz em ter conseguido esse estágio. Foi uma proposta muito boa pra mim, bom pro meu currículo, é um começo porque eu já havia trabalhado em escola antes, com transporte escolar, sempre trabalhando com criança, isso ajudou bastante”, diz a estagiária Márcia da Silva Borges.
Essa vontade de recomeçar anda contagiando muitos quarentões. Segundo o CIEE (Centro de Integração Empresa-Escola), a maior central de estágios do Brasil. Nos últimos três anos, o número de estagiários acima de 40 anos cresceu 20% e hoje eles já são mais de 7 mil em todo o país. As áreas mais procuradas por eles são: administração, direito, pedagogia, psicologia e serviço social.
“Em geral são pessoas que já formaram a sua família, os filhos já cresceram, já trabalham, aos 40 anos, 40 e poucos anos, jovem, em plena condição de vida, qualidade de vida e quer se dedicar agora, tem a oportunidade de estudar. E aí o estágio é a melhor forma de ingressar no mercado de trabalho”, diz Eduardo de Oliveira, superintendente educacional do CIEE.
E está comprovado que esses profissionais são muito bem vindos ao novo mercado que escolheram. 64% dos estagiários veteranos são efetivados. A Márcia está só há dois meses na escola e não há garantia de efetivação, mas pelos comentários da diretora, o sinal é positivo. “Eu via nos olhos a vontade que ela tinha de recomeçar. Sem preconceito nenhum em relação à idade e ela foi uma das melhores candidatas que a gente entrevistou e hoje é uma das melhores estagiarias que a gente tem aqui no colégio”, conta Marta Isabel Marchetti Holanda, diretora da escola.
Às vezes o recomeço depende de uma boa repaginada na carreira. “Talvez uma das grandes dificuldades de uma transição de carreira nessa faixa etária é pensar alem do emprego, é pensar em uma outra forma de trabalho e que nem sempre o profissional foi preparado ou já pensou sobre isso. Um trabalho que visa entender que outras atividades ele pode fazer, quais são as opções que ele sozinho não está percebendo. Se dar conta de como ele pode organizar inclusive financeiramente e psicologicamente para essa mudança”, aponta Rafael Souto, consultor de carreira.
Depois de 20 anos na mesma empresa, José Anilton se viu desempregado aos 48 anos, mas não se desesperou. Ele teve a ideia de procurar uma consultoria especializada pra se atualizar na carreira de recursos humanos.
“Eu precisava dar uma repaginada. Então eu gosto de brincar que fazia mais de 20 anos que eu não fazia uma entrevista de emprego. E, quando eu fui para essa consultoria, percebi que eles me ajudaram muito porque eu precisava de algumas dicas, alguns toques, eu precisava saber que perguntas são mais prementes”, afirma José Anilton Bezerra, gerente de RH.
Em três meses, veio o convite para gerenciar o RH de uma indústria química. “Tem algumas coisas que você tem que manter: acho que a jovialidade, a curiosidade, a curiosidade intelectual, eu acho que você tem que se atualizar, você tem que ler, você tem que participar, tem algumas premissas que você tem que continuar fazendo na sua vida, independente da sua idade. Acho que isso ajuda muito”, acredita José Anilton.
Fonte: G1