Joca Duarte

Projeto estimula uso da palavra para lidar com as dores causadas pela pandemia

 

Com a chegada da pandemia de Covid-19 a população se viu mergulhada em profunda tristeza e muitas perdas. Para suavizar e também ajudar a administrar melhor estes sentimentos, o Museu da Língua Portuguesa lançou o projeto A Palavra no Agora.

O foco é poder se expressar, por meio de exercícios escritos, e deixar com que as palavras atenuem a força destas emoções. Basta estar online e começar os exercícios para refletir os sentimentos provocados pela pandemia.

Para explicar, o Portal CPP procurou Marília Bonas, diretora técnica da organização social que gerencia o Museu da Língua Portuguesa, o IDBrasil.

Portal CPP: Quando e de quem foi a iniciativa do projeto?

Marília Bonas: O projeto A Palavra no Agora nasceu a partir de uma inquietação da equipe do Museu da Língua Portuguesa no sentido de pensar no que a instituição poderia oferecer à população que está lidando com todas essas perdas, ansiedades e inseguranças causadas pela pandemia – e como fazer isso a partir do lugar do Museu da Língua Portuguesa, que é o lugar da palavra, da fala, da literatura. Tudo isso começou há dois meses, quando começamos a procurar parceiros para desenvolver o projeto.


A quem a pandemia gera mais sofrimento, mais dores?

A pandemia gera sofrimento para todos os grupos sociais. Claro que é maior para idosos e pessoas de grupos de risco que têm mais dificuldade de acesso a ferramentas de comunicação. Estão mais isoladas não só fisicamente, mas também desse contato remoto das pessoas que amam e com quem conviviam. Tem outra questão importante que o projeto traz nessa etapa inicial que o luto mesmo. São perdas que não podem ser vividas como eram antes: não pode velar a pessoa, não pode dar e receber abraços. Isso é algo especialmente doloroso no momento que a gente está vivendo. O projeto traz uma frente importante de ferramentas de escrita, manuais sobre o luto para diversos públicos e iniciativas memoriais. A gente entende que é muito importante trabalhar com essa questão agora.


E como as pessoas recebem os estímulos por meio da palavra?

A palavra é que une a gente hoje e é o que nos aproxima e nos ajuda a lidar com o que estamos vivendo num contexto novo. São todos sentimentos novos, num contexto novo, para o qual ninguém estava preparado, e as palavras são a ferramenta que a gente tem para processar esse momento com a gente mesmo, com as pessoas que a gente ama. É importante oferecer trechos de literatura para as pessoas entenderem que elas podem buscar na cultura como um todo um alento, um apoio, um estímulo – e também uma crítica, uma provocação. A cultura e a literatura têm esse papel, assim como a palavra, ferramenta fundamental nesse momento.

Importante apontar que o projeto A Palavra no Agora é realizado com o apoio da professora doutora Maria Helena Franco (Laboratório de Estudos do Luto – LeLu, da PUC-SP), professora doutora Ivânia Jann Luna (Laboratório de Processos Psicossociais e Clínicos no Luto – LAPPSIlu, da Universidade Federal de Santa Catarina), Fabíola Mancilha Junqueira (psicóloga e arteterapeuta, mestranda no LeLu/PUC-SP), do professor Fabio de Paula (Faculdade Cásper Líbero) e da professora Mariana Valente (InternetLab).

Os participantes também podem tomar a iniciativa de sugerir obras que possam apoiar e inspirar outras pessoas neste momento. Os textos produzidos poderão ser compartilhados no próprio site. O projeto está disponível gratuitamente em noagora.museudalinguaportuguesa.org.br.

O Museu da Língua Portuguesa explorará as relações entre luto e literatura numa live nesta quinta-feira (16) às 19 horas, com a participação da escritora Aline Bei, autora de “O peso do pássaro morto”, e da professora Maria Helena Franco, do Laboratório de Estudos do Luto da PUC-SP.

Acompanhe: 

Facebook: www.facebook.com/museudalinguaportuguesa
YouTube: www.youtube.com/museudalinguaportuguesa

O Museu da Língua Portuguesa é uma instituição da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do governo do estado de São Paulo, e está em reconstrução. 

Fotos: Joca Duarte e Jefferson Pancieri