Levantamento da Comissão Coordenadora de 80 anos aponta que universidades particulares, como a UnG, e outras públicas, como a Unesp, colocam mais docentes no ensino público; para ex-reitor, universidade pode colaborar mais na educação básica brasileira

 

Dos professores de ensino fundamental da rede pública do Estado, apenas 2,57% são formados pela Universidade de São Paulo (USP). A proporção é menor do que a de faculdades particulares, como a Universidade Guarulhos (UnG), com 4,01%, e de outra pública, como a Universidade Estadual Paulista (Unesp), com 3,78%. O levantamento exclusivo foi feito pela Comissão Coordenadora de Comemoração de 80 anos da instituição.

 

A ideia é reunir dados sobre egressos em uma publicação, com lançamento previsto para 2015. Os números foram obtidos pela comissão com a Secretaria Estadual da Educação (SEE), em abril. A base para os resultados é uma amostra de cerca de 104 mil docentes, entre aproximadamente 175 mil profissionais. O restante não tinha a instituição de origem cadastrada. No total, a rede tem 250 mil professores, entre concursados e temporários.

 

Para o ex-reitor da USP e ex-ministro da Educação José Goldemberg, da Comissão de 80 anos, a universidade poderia formar mais professores para o ensino público. “A motivação dos criadores da USP era contribuir mais nessa área”, diz. “Minha impressão é de que os salários dos professores do fundamental não são suficientemente atraentes”, afirma. “Outra interpretação é a de que os alunos da USP conseguem colocação melhor no mercado.”

 

Só no último vestibular, a USP ofereceu 230 cadeiras de Pedagogia e cerca de 2,6 mil vagas em carreiras em que o ingressante poderia optar pela licenciatura. Em relação à cota de concluintes de licenciatura, a participação da USP é proporcional ao registrado na rede. Em 2013, o total de formandos em licenciaturas e Pedagogia foi de 590 – 2,4% do total de formados nas carreiras no ano passado no Estado de São Paulo.

 

Em nota, a SEE diz que “a rede é aberta e inclusiva e não estabelece como pré-requisito a formação em determinada universidade e, por isso, tem especialistas oriundos das mais renomadas faculdades públicas e privadas do País”. Nos anos iniciais do fundamental, diz a pasta, praticamente 50% dos docentes têm formação em universidades públicas. Não detalhou, porém, quantos profissionais atuam nas séries.

 

A secretaria explica que o total de formados na USP representa “baixo contingente de formados diante do tamanho da rede”. A Pró-reitoria de Graduação da universidade não comentou.

Condições de trabalho e salário afastam docentes da sala de aula. Ana Patrícia Lacerda, de 28 anos, se formou em Letras na Universidade de São Paulo (USP) e dá aulas de Língua Portuguesa para o ensino fundamental e o médio da rede estadual. Da sua turma com 60 formandos, diz ela, só dois optaram pelo ensino básico público. “Tenho várias colegas que decidiram seguir na tradução. Elas não se animaram depois do estágio na rede pública”, diz. Colégios particulares são outro rumo preferido.

 

Os principais problemas, conta Ana Patrícia, são más condições de trabalho, como indisciplina dos alunos e pouca valorização dos professores. “Na primeira semana de aula na rede pública, pensei em desistir”, lembra ela, que dá aulas em uma escola estadual em Francisco Morato, na Grande São Paulo. “Já me disseram que sou louca e deveria mudar de área.”

 

O interesse em se manter dentro da classe, diz ela, é pela satisfação em contribuir com o aprendizado dos alunos. Apesar dessa escolha, Ana Patrícia já prevê uma guinada na carreira. “Em dez anos, quero estar dando aula na universidade”, afirma a professora, que já faz planos de ingressar em um mestrado. Hoje, a ex-aluna da USP também dá aulas de espanhol em um colégio particular.

 

Ocimar Alavarse, da Faculdade de Educação da USP, pondera que, apesar da alta em empregabilidade, a carreira na rede pública apresenta os problemas apontados por Ana Patrícia. “Muitos alunos da licenciatura não querem dar aulas”, afirma Alavarse. Segundo ele, os talentos não são retidos na rede. “Salários baixos e condições de trabalhos horríveis. São muitas notícias ruins sobre educação.”

 

Alavarse diz também que a participação das universidades públicas na graduação de professores para o ensino básico público é limitada, principalmente por causa da recente expansão da rede particular. Para avaliar se a participação da USP na rede é grande, segundo ele, seria necessário saber qual é a porcentagem de egressos de cada turma que segue docência.

 

Outra ponderação é sobre o perfil de cada instituição. As privadas costumam ter foco no ensino de graduação, que forma profissionais para a sala de aula. Já a USP, assim como outras universidades públicas, também tem atuação forte na pesquisa.

As informações são do jornal O Estado de São Paulo

Secom/CPP