O índice de alunos reprovados nas escolas municipais de São Paulo mais que dobrou após o prefeito Fernando Haddad alterar os ciclos na rede de ensino. No ano passado, primeiro da vigência da medida, a repetência subiu 145% no ensino fundamental, segundo dados divulgados recentemente pelo Ministério da Educação. Foi de 2,2% para 5,4%, em comparação a 2013.

 

Considerando apenas as quatro últimas séries, a reprovação triplicou e foi a 9,6%. Estudos nacionais e internacionais indicam que o repetente tende a ter notas menores no restante da vida escolar e maior risco de evadir.

 

O crescimento da reprovação na rede municipal ocorreu após a gestão Haddad alterar os ciclos e aumentar o número de séries em que os alunos podem repetir. Eram duas (3a e 9a) e passaram para cinco (3a, 6a, 7a, 8a e 9a). A prefeitura afirmou à época da implementação da medida que queria exigir mais empenho dos alunos e detectar mais precocemente aqueles com extrema defasagem.

 

A gestão Haddad dizia não esperar grande aumento na reprovação, pois implementaria medidas de apoio aos alunos com dificuldade, o que evitaria a repetência. Durante o ano letivo, porém, controles da prefeitura apontavam que poderia haver explosão na reprovação (a taxa poderia passar de 25%).

 

Segundo o governo, havia escolas usando a possibilidade de reprovação como forma de disciplinar alunos. Docentes e diretores passaram a reclamar que estavam pressionados por dirigentes de ensino a não reprovar.

 

O próprio secretário de Educação à época, Cesar Callegari, afirmou que orientou a rede a não repetir estudantes mesmo que eles tivessem nota vermelha em todos os bimestres. Se a tendência era melhora, deveriam passar.

 

Nesta quinta, 11, a Secretaria de Educação disse ser “natural que, no primeiro ano de implantação do novo regime, haja número mais alto de retenções”. Afirmou também que o aluno só é reprovado se “esgotadas todas as possibilidades de recuperação”.

 

Repercussão. “Mesmo com a pressão, a taxa de reprovação ficou muito alta”, disse o pesquisador Ocimar Alavarse, da Faculdade de Educação da USP. “A prefeitura não enfrentou os problemas que de fato importam, como o acompanhamento do aluno com dificuldade. Os dados são negativos”, disse a coordenadora da ONG Todos pela Educação, Alejandra Velasco. “Há demanda de muitos pais e professor por mais reprovação, mas de que adianta o aluno ver a mesma coisa, com a mesma estrutura? E ainda estigmatizado.”

 

Na rede estadual, onde o número de séries com reprovação subiu de dois para três, a repetência no fundamental cresceu de 4,5% para 4,6%.

 

Secom/CPP – as informações são do jornal Folha de São Paulo, reportagem de Fábio Takahashi