É preciso sabe ler nas entrelinhas para entender as mudanças no ensino público da rede estadual anunciadas pelo governador Geraldo Alckmin. Ainda que todo o discurso oficial tente descaracterizar um plágio em relação à medida similar promovida em agosto pelo prefeito Fernando Haddad, não há dúvida que se trata do mesmo remédio para a mesma doença: o que muda é dosagem. E é aí que se pode encontrar razão para entender porque é que o governo do PSDB, depois de tantos anos defendendo a progressão continuada como uma de suas principais bandeiras, mudou subitamente de ideia. Já de olho nas próximas eleições, os tucanos sedimentam agora o caminho para, lá na frente, esvaziar o discurso dos petistas de que acabaram com a aprovação automática. Faz sentindo.

 

Pelo novo modelo, a partir de 2014, o ensino fundamental será dividido em três ciclos: do 1o ao 3o ano, do 4o ao 6o ano e do 7o ao 9o ano. Ao final de todos eles será possível a reprovação dos estudantes (atualmente eles só podem ser retidos em duas ocasiões). Já a Prefeitura ampliou os pontos de reprovação para cinco anos.

 

Seja como for, o fato é que as mudanças, tanto no âmbito municipal como estadual, podem trazer impactos positivos no aprendizado dos nossos jovens. Só o fato de a educação passar a fazer parte da ordem do dia dos dois governos já é animador. Criar condições para que os alunos possam ser melhores avaliados é uma forma de contribuir para o fim de uma realidade que choca: muitos alunos que chegam ao final do ensino fundamental mal sabem ler e escrever além do horizonte dos analfabetos funcionais.

 

Evidentemente a culpa pela má qualidade de ensino não é só do processo de progressão continuada. Para melhorar o desempenho de São Paulo no próximo Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) não bastam só mudanças conceituais. É preciso atacar também em pontos estruturais, que demandam mais investimentos na Educação. A começar pelo salário do professor, que, historicamente, é vergonhoso, digno de uma nota zero.

 

Editorial publicação no jornal Diário de São Paulo, ontem, 10/11.

SECOM/CPP