Hubert Alquéres pretende divulgar programa de bolsa para 2ª formação de professor e defende projeto de escolas de ensino médio em período integral
Em entrevista ao jornal Folha de São Paulo, nesta sexta-feira (1), o novo secretário da Educação do estado de São Paulo, Hubert Alquéres, 64, pretende anunciar em breve um programa de bolsas para formandos do ensino médio que queiram se tornar professores e para docentes da rede pública cursarem uma segunda licenciatura e poderem ministrar aulas em mais de uma disciplina. As medidas têm como objetivo reduzir o déficit de educadores das escolas públicas.
À frente do cargo há três semanas, viu duas mudanças na legislação, uma decidida pelo Supremo Tribunal Federal (STF), e outra pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), que resultaram em uma perda de R$ 5 bilhões por ano no orçamento da rede pública de ensino paulista. Diante disso, o secretário afirma que está reorganizando o orçamento a fim de viabilizar os novos projetos, sendo o principal deles o de dar início à transformação de todas as escolas de ensino médio em tempo integral. Essa deverá ser uma das principais bandeiras da campanha do governador Rodrigo Garcia (PSDB), que disputará a reeleição em outubro.
Quando perguntado como compara a educação paulista do tempo em que foi secretário-adjunto, no governo Covas, e a de agora, disse que a rede foi reduzida por conta da parceria com os municípios e de uma regularização maior do fluxo, que acaba com aquela situação de alunos repetentes por anos e anos. São pouco mais de 5 mil escolas e 3,5 milhões de alunos. E acredito que esteja ainda mais profissionalizada. Concluiu que os profissionais têm uma base bastante sólida e com boas novidades, como o Centro de Mídias, uma maneira rápida de chegar aos professores, diretores e estudantes. Que, do ponto de vista do currículo, vê uma diferença grande. “Antes se valorizava a memorização, o conhecimento mais enciclopédia. Hoje, consideramos importantes habilidades socioemocionais, como o raciocínio crítico, a capacidade de argumentação.
Sobre o problema por trás dos resultados negativos em índices de qualidade de ensino, Alquéres afirma que, se tem mais de 80% dos alunos em escolas públicas, não há como concluir que a escola pública é um fracasso. Segundo ele, os indicadores mostram que São Paulo não é um fracasso. Ele citou o Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) do 5º ano e do 9º ano, em que as escolas públicas de São Paulo estão na primeira posição. No ensino médio, está em 4º lugar. “Não compactuo com a ideia de que a educação de São Paulo esteja ruim. Acho que essa ideia não faz jus aos alunos nem ao trabalho dos professores e diretores da escola, que se esforçam muito e têm mostrado resultados e um grande comprometimento com as políticas públicas para a educação.”
Para ele, o ensino integral é uma vertente hoje muito importante, porque garante mais resultados. As 33 melhores escolas do Ideb, segundo ele, são do ensino integral. Em sua opinião o ensino integral não está consolidado, mas houve uma expansão grande e precisa-se procurar mecanismos para financiar a continuação dessa expansão. O secretário sinalizou que o governador Rodrigo Garcia, na campanha de reeleição, pretende focar bastante o discurso na educação, e uma das bandeiras da campanha vai ser universalizar o ensino integral das escolas do ensino médio. E tem dito que quer fazer a integração do ensino médio com o técnico e o profissionalizante.
Afirmou que a Secretaria da Educação está com dificuldades para conseguir professores para os itinerários formativos, mas que serão priorizadas essas disciplinas para a atribuição de aulas do próximo ano. “O Repu [Rede Escolas Públicas e Universidade, que fez um estudo que aponta déficit de 17% e professores no ensino médio], apesar da boa vontade de participar das questões de educação, não ponderou que esse déficit está muito localizado, não é um dado geral da rede. Hoje São Paulo tem 204 mil professores em sala de aula. O déficit de professores é de 2.900, é 1, 5%, mas esse número está concentrado nos itinerários. Estamos fazendo um esforço grande para fazer essa contratação. As disciplinas dos itinerários têm professores de algumas formações habilitados a ministrá-las. As mais ligadas à tecnologia precisam de professor de matemática ou física, e há uma dificuldade no Brasil inteiro de encontrar professores dessa formação”, ressalta.
Indagado de como o governo pode reduzir esse déficit de professores, a resposta foi de que se proponha uma bolsa de estudo para os professores da rede estadual poderem fazer uma segunda licenciatura. E cita exemplo: “o professor licenciado em geografia, pode fazer matemática, com um bolsa”.
Reforçou que hoje o Brasil tem muito licenciado em pedagogia e este profissional pode dar aulas no fundamental [1º ao 5º ano], que tem uma base em geografia, história etc. Mas não é licenciado em cada uma essas disciplinas. Então, com esse programa de bolsas, poderão fazer a segunda licenciatura e se especializar. E a carga horária será menor, porque ele já tem a base. Em até um ano pode ter o segundo diploma. E vai além, quer deixar para 2023 também pronta a bolsa para a primeira licenciatura para os estudantes do 3º ano do médio. Também fechou com a Unesp 900 vagas de mestrado para os professores da rede pública. “Vamos remunerar a Unesp para abrir essas vagas já em 2023. Eu gostaria de deixar um movimento forte de formação para professores, tanto inicial quanto continuada”, diz.
Vê o projeto para que escolas públicas sejam geridas por OSS (Organizações sociais de gestão privada, sem fim lucrativo), apresentado na Câmara de São Paulo, como preciso em não deixar por conta de outras organizações a contratação dos professores, o pedagógico. E ainda enfatizou que o conteúdo curricular e a formação dos professores devem ser atribuição do Estado. “O Estado é laico e precisa continuar sendo. E se vem uma Os ligada a uma religião para administrar uma escola? Tudo tem que ser muito blindado para que não contamine o currículo e os valores republicanos, de a escola não se um ambiente de manipulação político-partidária ou em que a religião esteja presente de forma inadequada”, diz, com convicção.
Encerrando a entrevista, disse que é a favor das cotas nas universidades e que o resultado é extremamente positivo. E ainda se disse defensor das cotas em geral. “É um modelo que tem sido bem-sucedido. Se as cotas raciais terminam por gerar uma tensão social, o que deve ser feito é resolver essa tensão social e não acabar com as cotas.”
Fonte: Folha de São Paulo