A Organização Mundial da Saúde (OMS) registrou, em 2019, que o Brasil tem o maior número de pessoas ansiosas do mundo, o equivalente a 18,6 milhões de brasileiros. Um número assustador, afinal, são 9,3% da população.

Setembro Amarelo é uma campanha brasileira para meditar e investir na prevenção ao suicídio, iniciada há cinco anos. Depois de vencer preconceitos durante anos a fio, o suicídio ganha um protagonismo necessário.

Como abordar o assunto com crianças e adolescentes? Mais desafiador ainda: como detectar sinais de problemas emocionais em crianças e especialmente nos adolescentes no ambiente escolar?

O Portal CPP procurou ajuda para entender o contexto desse assunto.

A Dra Gesika Amorim, que é médica pediatra e neuropsiquiatra com ênfase em saúde mental e neurodesenvolvimento infantil, começa por revelar a raiz do tom misterioso que envolve o suicídio sempre cercado por tabu. ”Do ponto de vista místico, qualquer que seja a religião, atentar contra a própria vida é um pecado imperdoável, só isso já torna esse fato um tabu. Da mesma forma, que dor ou sofrimento é esse que fez com que o indivíduo atentasse contra si? São inúmeros os casos de indivíduos aparentemente bem sucedidos, astros de rock ou atores que mesmo que aparentemente tivessem ‘tudo’, não conseguiram lidar com a própria existência. E a família que estava ao redor, não viu? De quem foi a culpa? Quem não ajudou? Esse fato em si também é um tabu. Sempre observamos de perto o comportamento. Os professores sabem o que é o normal de cada um. Ao perceber mudanças que possam indicar o início de depressão ou de ansiedade procuramos, junto aos pais, acompanhar a criança e, se necessário, encaminhar a profissionais da área médica”, conclui a diretora.

Tudo que fere o seio e o equilíbrio da família é desconfortável de ser discutido na sala de jantar, por isso e tão difícil trazer esse assunto às rodas de discussão

“É preciso ter cuidado também com a imitação de modelos, daí a lenda que suicídio é ‘contagioso’. Ao se noticiar nas mídias o êxito do ato, outros podem ter coragem tentando consumar uma vontade interna. Enfim, é um tabu sim, e existe uma influência social desde os tempos primórdios. Mas é necessário falar sobre isso”, completa a dra. Gesika.

O suicídio pode ser prevenido diariamente por meio do treinamento dos valores, da autoestima e do desenvolvimento diário da resiliência – explica a médica. “Primeiro precisamos entender que o indivíduo não quer pôr fim à vida, mas matar uma dor interna que ele pensa que não existe outra saída para combatê-la. Talvez por uma limitação perceptiva ou até mesmo afetiva, ou quando já existem sintomas de autodestruição. Quando percebemos isso, podemos cuidar dessa pessoa e demonstrar para ela que, sim, existem outras formas de matar a dor! E podemos descobrir juntos.”

O suicida tem uma alteração perceptiva chamada de “personalização”, ele entende que todos os problemas acontecem por ser ele e vão acontecer por ser ele. Então, dentro dessa distorção de lógica, para que estes problemas cessem, a ideia é o autoextermínio.

A prevenção é uma questão primordial. Ao se lançarem propostas de trabalho social, com artes, grupos de discussão, criam-se espaços para dialogar sobre alternativas de solução que não o suicídio. Essa personalização passa a ser uma alternativa e não a ÚNICA alternativa, se entende por exemplo, que no lugar da automutilação, deve-se começar imediatamente a cortar aquilo que lhe faz mal e causa a dor. Quando damos a possibilidade de estimular as habilidades pessoais para que o paciente conduza as situações que estão sendo insuportáveis, pois o suicídio acontece quando não se vê outra alternativa além de se auto eliminar. O indivíduo se culpa e de alguma forma entende que não é capaz de lidar com as adversidades. O suicídio pode ser prevenido diariamente através do treinamento dos valores, da autoestima e do desenvolvimento diário da resiliência.

Um tabu com influência social desde os tempos primórdios

A prevenção precisa ocorrer desde  criança, quando estimulamos as resoluções de problemas, a flexibilidade, a visão de se lidar com aquilo que não se pode modificar; de trabalhar com o que se tem na mão e não com o que se gostaria de ter. As crianças que não tendo como enfrentar alguma situação, deixam de fazer aquilo de que gostam. Existe uma questão muito importante que é o a desvalorização do futuro, o planejamento do futuro e a forma de como se vê no futuro, se existem sonhos ou metas a serem vencidas. Não havendo, também é um indício é preciso ter cuidado também com a imitação de modelos, daí a lenda que suicídio e “contagioso”. Ao se noticiar nas mídias o êxito do ato, outros podem ter coragem tentando consumar uma vontade interna. Enfim, um tabu e existe uma influência social desde os tempos primórdios. Mas é necessário falar sobre isso. 

Chega então a baixa autoestima, o sentimento depressivo, o não se sentir incluído e aí o impulso suicida acaba tomando conta

A dra. Gesika inclui as pessoas autistas: “Aqui entram duas discussões: primeiro os autistas que são diagnosticados, e depois os autistas que não são diagnosticados.  Os autistas que são diagnosticados têm uma possibilidade de investimento maior na flexibilidade. E aí a gente entra na questão de trabalhar melhor com algumas formas de lidar com a dor. Aqueles que não são diagnosticados, têm menor flexibilidade social e podem, equivocadamente, serem mal interpretados como sendo arrogantes e pedantes, o que piora a exclusão e o isolamento. Chega então a baixa autoestima, o sentimento depressivo, o não se sentir incluído e aí o impulso suicida acaba tomando conta. 

Os adolescentes são mais suscetíveis ao suicídio por várias questões

Se existe um momento mais propício para a vulnerabilidade na emoção humana, esta ocorre na adolescência e, por isso, são mais suscetíveis a suicídio; carecem de referências e identidades sólidas. Os adolescentes são mais suscetíveis ao suicídio por várias questões: Primeiro, existe uma questão biológica; o cérebro do adolescente é impulsivo, regido pela amigdala, e seu córtex pré-frontal racional ainda não está maduro. Os adolescentes vivem o “aqui e agora”, não tendo visão das consequências, do amanhã e do que pode ser feito. Eles são muito intensos, apresentam conflitos com a própria identidade, não sabem se são adultos ou crianças. Além disso, existe o tédio, que faz com que o adolescente busque outras alternativas de lidar com a própria vida; arte e esporte, por exemplo.
Hoje se tem muita dificuldade de estabelecer as relações parentais e valores. Existe uma carência na construção da resiliência, no adaptar-se às adversidades. Cada vez mais a geração do “eu quero/eu tenho” tem sido uma realidade, então se “eu não tenho ou não posso ter o que eu quero, não sei lidar com isso, logo, o problema está comigo, preciso dar um fim a esse sofrimento”. Surge aí a ideação suicida. Hoje em dia as doenças mentais estão aparecendo muito mais cedo: Instabilidades de humor ou mesmo transtornos de personalidade, aparecem cada vez mais cedo, trazendo uma vulnerabilidade cada vez maior, colocando esses jovens em risco crescente.

Primordial é a criação de um vínculo de afeto, confiança e empatia, tornando possível o diálogo professor e aluno

É preciso que ocorra qualificação dos professores porque mais do que identificar é necessário lidar com a situação. Os professores precisam buscar entender sinais e sintomas de adoecimento emocional além de desenvolver estratégias de resgate da relação dessa criança ou adolescente consigo mesma, mantendo sempre contato com os responsáveis a fim de conhecer e compreender qual a realidade em que esta se encontra inserida.

A Dra Gesika Amorim é Médica Pediatra e Neuropsiquiatra com ênfase em saúde mental e neurodesenvolvimento infantil. É pós-graduada em psiquiatria e neurologiaclínica. É também referência no Tratamento de TEA-Transtorno do Espectro Autista com utilização de HDT – Homeopatia Detox – Tratamento Integral do Autismo E Medicina Integrativa.

www.dragesikaamorim.com.br
Instagram: @dragesikaautismo 


As aulas remotas mudaram a forma de lecionar e de administrar o relacionamento com as famílias

Marizane Piergentile, diretora de educação da rede Adventista do ABCDM e Baixada Santista, aponta pontos de atenção para perceber quando se deve agir: agressividade, choro fácil, isolamento, excesso ou perda de sono e/ou fome. Qualquer comportamento diferente deve ser observado. Tudo pode ajudar a dar sinais de alerta aos pais e educadores para buscar acompanhamento profissional. É preciso manter o diálogo em casa e enxergar sinais de que a criança precisa de ajuda. A escola, ponto de apoio para a família, ficou atrás das telas.

Para o Portal CPP, Marizane explica: “Diretores, professores que nesse momento têm contato com os alunos por meio de aulas virtuais, ao identificar um aluno com tendência suicida ou que comentou, considerar isso como algo relevante. Nenhum comentário a respeito deve ser considerado algo passageiro; precisa ser levado a sério. Nenhum professor ou administrador da escola tem, na escola, função de psicólogo. Não pode criar diagnóstico, não pode tratar o caso dentro do senso comum. Precisa encaminhar o caso a um especialista. Não se deve esconder da família do aluno que confidenciou que pensa em suicídio”.


Importante lembrar que quem tem o “poder familiar” sobre ele são os responsáveis legais

A escola não pode guardar segredo e não falar com a família ou responsávei, ainda que o menor peça. A família precisa estar ciente da situação para que procure ajuda junto. A escola deve ter parceria total com a família, acompanhar o aluno diariamente, as alterações de humor, é preciso abordar o assunto. O educador deve ouvir o aluno sem criar juízo de valor. Ouvir com empatia e se tornar solidário. Tenho ouvido histórias de professores que acompanham o aluno num relacionamento adulto/menor. Não um amigo de balada. Mas um amigo que está ali para dar um suporte a este aluno. Sempre observamos de perto o comportamento. Os professores sabem o que é o normal de cada um. Ao perceber mudanças que possam indicar o início de depressão ou de ansiedade procuramos, junto aos pais, acompanhar a criança e, se necessário, encaminhar a profissionais da área médica, conclui a diretora. Sempre observamos de perto o comportamento. Os professores sabem o que é o normal de cada um. Ao perceber mudanças que possam indicar o início de depressão ou de ansiedade procuramos, junto aos pais, acompanhar a criança e, se necessário, encaminhar a profissionais da área médica, conclui a diretora. 
 

A Rede do Colégio Adventista, nas regiões do Grande ABC e Litoral Paulista, conta com 8 unidades que atendem alunos do maternal ao ensino médio.

Unidade Santo André I
Avenida dos Andradas, 367, Vila Assunção – Santo André – SP
Telefone: (11) 4468-5800 – santoandre.educacaoadventista.org.br