Aula tem que ser uma verdadeira experiência e não só expositiva; docente passa a ser uma espécie de guia, alguém capaz de ouvir e desenvolver as capacidades de cada estudante

 

Em um mundo cada vez mais complexo, em constante mutação e, graças à virtualização, capaz de armazenar volumes em precedentes de informação, o papel do professor deve ser o de jogar luz sobre o que importa e, assim, colocar um pouco de ordem no caos. “Nossa função é ajudar a organizar o mundo – mas não somos nós que organizamos. A partir do conjunto de informações organizadas, as pessoas podem dar significado ao mundo”, afirmou Miguel Thompson, diretor executivo do Instituto Singularidades, durante o painel “Os Novos Papéis do Professor”.

 

E por mais ferramentas autônomas e inteligências artificiais venham a ganhar espaço na vida das pessoas, o lugar do professor está assegurado. “A tecnologia só é gerada por pessoas com boa formação. E quem forma é o professor”, disse. Thompson lembrou do modelo de escola atual vem de uma tradição enciclopedista do iluminismo, mas que o professor tem de deixar de lado a pretensão de saber tudo e incentivar os jovens a buscarem o que desejam por eles mesmos. A aula, defendeu, tem que ser uma experiência.

 

Citando teóricos de forma contextualizada, entre eles, Jerome Bruner e Silvio Meira, o executivo do Singularidades, que é professor de biologia por formação, promoveu uma meta-aula, em que divertiu, desafiou, contou histórias e usou múltiplos recursos para levar a plateia a refletir sobre o tema.

 

Segundo ele, muito mais do que pensar em aparelhos ou programas de computador, o professor tem de atuar segundo os drives culturais da atualidade, que são: customização, colaboração, conexão, comunicação, criatividade e crítica. “Não é nada mais do que acontecia nas reuniões de venda de tupperware”, comparou brincando. “A partir de drives culturais que a gente constrói um projeto educativo”.

 

Olhar de forma mais ampla implica em tirar dos ombros do professor a obrigação de entender detalhadamente sobre cada ferramenta tecnológica. De forma prática, mostrou que mais importante é associar cada device ou software a um verbo, para entender do que tratam. “O e-mail e o Twitter servem para comunicar, a Wikipédia para aprender, o Facebook para conectar, o PowerPoint para apresentar”, citou. A partir disso, o docente pode deixar o jovem explorar.
 

Nesse novo modelo, o professor deve ouvir e aprender com os mais jovens, para ter outros pontos de vista. Seu talento reside, contudo, em exercer uma “escuta ativa”.