Foto: Stefanny Alves/Arquivo Pessoal

37% dos estudantes negros e 58% dos professores negros sofreram violência na escola

O Brasil é um país racista, sim ou não? Pesquisa divulgada no Fórum Data Favela mostra que negros ainda têm menos oportunidades educacionais.

Ainda que o Brasil esteja embasado no princípio constitucional da igualdade afinado com o Estado Democrático de Direito, o país se mantém longe de proporcionar ao cidadão negro a devida inclusão social, com o total rompimento com todos os preconceitos e formas de racismo e discriminação.

Aniquilar o imenso abismo racial e social no Brasil é um desafio constante. Entretanto, um dos mais eficazes meios para o sucesso desse processo é aplicar a educação antirracista. Somente com justiça e igualdade andando lado a lado a sociedade pode se sustentar de forma democrática.

A Central Única das Favelas (CUFA), o Instituto Locomotiva e a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) promoveram o webinário Fórum Data Favela, onde foi apresentada a pesquisa “Educação, Cultura e Racismo”.

O Data Favela é o primeiro instituto de pesquisa e estratégias de negócios focado na realidade das comunidades brasileiras.

O webinário teve um debate entre os fundadores do Data Favela, Celso Athayde, também fundador da CUFA (Central Única das Favelas), Renato Meirelles, também presidente do Instituto Locomotiva, a Diretora e Representante da UNESCO no Brasil, Marlova Noleto, o cantor Gilberto Gil, a apresentadora e atriz Regina Casé, fizeram parte do evento. números apresentados pela pesquisa indicam que a inclusão dos negros na sociedade brasileira é uma realidade marcada por injustiças.

A pesquisa aponta que o Ensino Básico Público possui aproximadamente 60% de alunos negros. Enquanto que no privado, são 60% de brancos. Mesmo com todas as políticas afirmativas, na faculdade pública, os negros ainda não são maioria. São 54% de não negros nas cadeiras universitárias públicas brasileiras,

Para o Portal CPP, Celso Atayde lamentou o que acontece nas escolas: “O racismo está presente em praticamente todos os segmentos da nossa sociedade. E é lamentável demais que ele também se manifeste na educação. É absurdo algumas coisas que ficamos sabendo que alunos e professores pretos sofrem no ambiente escolar. A sociedade precisa dar um basta nisso. Precisamos de uma educação antirracista”, afirmou o os fundadores do Data Favela e da CUFA (Central Única das Favelas).

O Portal CPP ouviu Stefanny Alves Santso, 18 anos, estudante que ainda não conseguiu se desfazer das lembranças que o racismo escolar imprimiu na memória.

“Estudei no Visconde de Itaúna (E.E. Visconde de Itaúna – SP) da primeira série até o ensino médio. O fato de ser uma escola muito rígida, o racismo não era muito explícito, e por ser uma escola estadual, com um padrão melhor, boa parte dos alunos eram brancos. Quando eu era criança o racismo era mais claro, direto, estudava com um menino chamado Lucas (o sobrenome é lembrado). Ele vivia me chamando de chocolate, relacionava minha cor a cocô e outras coisas. Isso foi lá na segunda, terceira série. Mas o que me acompanhou nesses 10 anos foi a complexidade com o cabelo. Eu não aceitava o meu cabelo. Boa parte se deu por influência da escola. Alisei meu cabelo até 16 ou 17 anos. Quando tirei a química e cortei o cabelo vivi um episódio de racismo com a comparação. Uma amiga disse que se eu tirasse as tranças iria parecer uma roceira. A diferença é que com essa idade eu estava mais pronta para lidar com o racismo. Durante minha transição capilar, ninguém me apoiou. Na minha infância, numa sala de 35 ou 40 apenas dois alunos eram negros, ainda que essa escola estivesse numa periferia . Quando tinha 9 anos, na terceira série, me lembro que havia um menino da periferia, negro também, com uma grande dificuldade para aprender. Um dia, a diretora humilhou o menino na frente de todo mundo. Para mim aquilo era normal.”

Atualmente, Stefanny é estudante de TI e trabalha na Zap. E também é empreendedora.

Os números da violência são assustadores: 37% dos estudantes negros já sofreram violência nas escolas, e 58% dos professores negros também. E mais: 82% de alunos negros e 95% dos professores negros já souberam de violência em escolas estaduais, no último ano.   

A igualdade deve estar presente num Estado Democrático de Direito. O Brasil só poderá conquistar o lugar que é seu por direito quando garantir a participação igualitária, autônoma e justa a todos os seus cidadãos.