Em entrevista, Milton Ribeiro ainda se disse surpreso ao saber de algumas atribuições do MEC
Pelo visto, não há limites para as aberrações ditas pelo ministro da Educação, Milton Ribeiro, um dos assuntos mais comentados nesta quarta-feira (11). O motivo foi a fala desastrosa e desnecessária em uma entrevista dada no programa Sem Censura, da TV Brasil, na noite desta segunda-feira (9), no qual afirmou que as universidades brasileiras deveriam ser para poucos. Defendeu a volta às aulas na educação básica, ironizou a demanda dos professores por vacinação contra a Covid-19 e se mostrou, mais uma vez, surpreso com o tamanho da pasta que ele chefia há mais de um ano.
Para Ribeiro, os institutos federais, como ensino tecnológico e profissionalizante, serão “as vedetes” do futuro. Ele disse ainda estar cansado de encontrar motoristas que têm graduação completa. “Tem muito engenheiro, advogado, dirigindo Uber porque não consegue a colocação devida, mas, se fosse técnico em informática, estaria empregado porque há demanda muito grande”, disse o ministro. “Então, o futuro são os institutos federais, como é na Alemanha hoje. Na Alemanha, são poucos os que fazem universidade. A universidade, na verdade, deveria ser para poucos, nesse sentido de ser útil à sociedade”, completou Ribeiro.
Os institutos federais, elogiados por Ribeiro, foram criados em 2008. Apesar de dizer que são essenciais à educação, o ministro não tem conseguido manter os investimentos neles. Documento da pasta enviado ao Ministério da Economia em maio deste ano admitiu que a verba para os institutos federais estava aquém das necessidades reais dessas unidades – o que, segundo o próprio MEC, comprometia o “funcionamento geral” das instituições.
Na entrevista à TV Brasil, o ministro disse que desconhecia, quando assumiu a pasta, a existência das 38 unidades. Também admitiu que “tomou um susto” quando percebeu a variedade de atribuições da pasta. “Eu administro 50 hospitais universitários”, afirmou ele. Segundo o ministro, metade das vagas nas universidades é destinada a cotas e a outra parte vai para os “alunos melhores preparados”. “Eu acho justo, considerando que os pais desses meninos ricos tidos como ‘filhinhos de papai’ são aqueles que pagam os impostos do Brasil, que sustentam bem ou mal a universidade pública. Não podem ser penalizados.”
Segundo Ribeiro, dos 69 reitores das federais, ele conversa “plenamente” com 20 a 25. “Dez deles eu trouxe para visitar o presidente, uma coisa inédita. Não precisa ser bolsonarista, mas não pode ser esquerdista, lulista. As universidades não podem se tornar um comitê político nem de direita e muito menos de esquerda.”
O MEC terminou 2020 com o menor gasto em educação básica na década. Bolsonaro vetou lei que obrigava o governo federal a financiar a conectividade nas escolas. Ribeiro justificou na entrevista que a prioridade é investir em escolas sem condições básica de infraestrutura, como saneamento. E, na linha contrária à de estudos que mostram que a reprovação aumenta as taxas de abandono escolar e não melhora o rendimento futuro dos alunos, Ribeiro defendeu a retenção de estudantes em função da aprendizagem. “Temos que voltar a essa questão de repetir de ano sim, não é vergonha, é uma ajuda para a criança e o país.”
REAÇÃO
A União Nacional dos Estudantes criticou as declarações. Segundo a UNE, o ministro verbalizou o “projeto do governo Bolsonaro” para a educação. “A entrevista concedida ao Sem Censura da TV Brasil foi um verdadeiro ataque a todas as esferas da educação brasileira. Estamos em guerra, amanhã é estudante de rua”, escreveu o grupo no Twitter. Para Rozana Barroso, presidente da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes), há um projeto do MEC de construir uma universidade para poucos. “Não é à toa que nos impossibilitam de acessar a internet e escolas estruturadas. Quero ser a primeira da família no ensino superior, como milhões de jovens, disse, nas redes sociais.
CPP REPUDIA PALAVRAS DO MINISTRO DA EDUCAÇÃO
O Centro do Professorado Paulista parte do princípio que educação de qualidade deve ser dada a todos. Quantos talentos o país perdeu nos últimos séculos por não ter dado aos seus cidadãos acesso a ensino? Quantos milhares passaram a vida analfabetos, sendo que, se tivessem tido alguma oportunidade, poderiam ter desabrochado suas qualidades latentes e dado à pátria artistas, escritores, empreendedores.
Não se pode permitir que isso continue acontecendo e que a imensa força da nação seja desperdiçada. Cada cidadão deve escolher o futuro educacional que desejar, seja no ensino básico, seja no superior. Universidades não podem ser ambientes de elite, como no passado, mas acessível a quem por ela se interessar, mesmo porque não se ingressa na academia apenas com objetivos profissionais.
O CPP defende e sempre defenderá a priorização da educação de qualidade em todas as etapas e de forma igualitária. Universidades são extensoras do conhecimento.
A Educação, senhor ministro Milton Ribeiro, é coisa séria e como tal deve ser tratada.
Fontes: Estadão e Folha de São Paulo